Crescer entre duas culturas

Crescer entre duas culturas é um privilégio incrível. Uma das grandes maravilhas da qual podemos desfrutar quando a vida nos oferece essa chance é a de crescermos falando duas ou mais línguas, mas as oportunidades que acessamos ao crescer entre duas culturas vão muito além do bilinguismo.

Uma pessoa que cresce com duas ou mais culturas desenvolve, de forma muito natural, a habilidade de entender o mundo de um jeito mais flexível e de aceitar mais facilmente a diversidade das pessoas. Isso é uma qualidade fundamental para a construção de uma sociedade mais tolerante e aberta às diferenças. Infelizmente, as coisas se complicam um pouco quando os adultos envolvidos na formação dessas crianças não têm uma relação muito bem equilibrada com essa multiculturalidade.

Quando adultos comparam, julgam, e desqualificam as culturas que fazem parte da identidade de uma criança, acabam contribuindo para gerar conflitos de lealdade na cabeça dela. Muitas vezes a gente alimenta esses conflitos com atitudes banais e impensadas do dia a dia, sem nem nos darmos conta de seus potenciais destrutivos. Isso acontece, por exemplo, quando insistimos em perguntar às crianças se elas se sentem mais “isso” ou “aquilo”, quando perguntamos de onde elas são e desacreditamos suas respostas (de onde você é? Mas de onde você é mesmo?) ou quando falamos mal de uma das culturas às quais ela pertence.

Imagem: Brad Dorsey por Pixabay

Crianças gostam de se sentirem pertencentes, de fazer parte do grupo e não de destoar dele. Por isso, numa sociedade que supervaloriza a monoculturalidade, uma criança que pertence a duas culturas pode se sentir envergonhada de uma elas, caso essa cultura não tenha grande aceitação e reconhecimento positivo dentro da sociedade majoritária. Cabe aos adultos responsáveis pela educação e formação dessas crianças mostrarem a elas que pertencerem a culturas diferentes é um presente e uma oportunidade e não motivo de se envergonhar.

A melhor forma de conseguir fazer com que a multiculturalidade seja uma coisa natural, ao invés de representar um peso para as crianças, é trabalhar os nossos sentimentos em relação à nossa própria pluralidade e também à pluralidade dos outros. Crianças aprendem através dos modelos que damos a elas. Quando elas perceberem que seus pais celebram a própria multiculturalidade, que identificam nelas as suas potencialidades e as encaram com o mesmo respeito e aceitação, há grandes chances de as crianças se espelharem em seus exemplos.

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*Por Cris Oliveira

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