Lost in Translation

O idioma alemão tem umas palavras enormes. Algumas delas justificam o tamanho porque significam uma infinidade de coisas diferentes, ao passo que outras decepcionam depois que você descobre o que querem dizer. Por exemplo, você lê a palavra “Streichholzschachtel” em algum lugar e pensa imediatamente que aí vem bomba. Prende a respiração em expectativa antes de ler sua definição no dicionário. Uma palavra dessas só pode ter um teor altamente filosófico. Chega a ser ridículo quando a pessoa acaba descobrindo que esse barulho todo era só por causa de uma “caixa de fósforo”.

A língua alemã parece ter uma palavra específica para cada coisa do universo. É como se dar nome às coisas fosse uma questão de honra. Os substantivos são tão importantes que estão sempre se exibindo em maiúsculas ao longo dos textos. Por mais insignificante que algo possa parecer, por mais estranho que seja o sentimento, por mais imprecisa que seja a cor, o alemão dá um jeito de nomear.

Foi assim que me deparei com a diferença entre “pink” e “rosa” e com o incompreensível sentimento de “Fernweh” que hoje em dia eu entendo como sendo uma vontade imensa de sair por aí conhecendo outras culturas, outras pessoas, outros mundos. É quando você não aguenta mais o seu dia a dia e precisa viajar pra muito longe, deixar tudo pra trás, nem que seja por alguns meses ou mesmo por poucos dias. “Fernweh” é uma saudade ao contrário que, pelo visto, eu sempre tive, mas precisei chegar aqui pra saber exatamente como explicar.

Você, assim como a gente, teve de aprender outras línguas? Por quais palavras das suas línguas estrangeiras você já se encantou?

Foto: Sarah Lötscher (via Pixabay)

A trajetória profissional na migração

Você, que sempre acompanha o Continuidade, escuta o tempo todo que eu sou “a professora, educadora e linguista” Cris Oliveira. Essa repetição tem um valor simbólico muito significativo para mim. É que nós, migrantes, muitas vezes, temos de percorrer um caminho bem mais longo do que as pessoas locais para chegarmos ao mesmo patamar profissional.

Nossas trajetórias raramente são linhas retas. Por um lado, isso pode ser muito interessante e nos levar a lugares antes inimagináveis para nós, mas também pode trazer consigo muitas dificuldades, decepções e retrocessos.

Calma, não precisa se desesperar! Uma forma de lidar com as bolas cruzadas que a migração nos lança, principalmente no que diz respeito às nossas trajetórias profissionais, é nos fortalecendo emocionalmente, prestando atenção aos processos psicológicos comuns da migração para sabermos selecionar que estratégias fazem mais sentido para cada situação enfrentada.

Assim, podemos decidir com mais segurança, a depender da situação que estamos vivendo, se devemos fazer um novo curso, procurar mais informações, nos organizar melhor, desviar de caminho completamente ou, simplesmente, manter a calma, respirar fundo e persistir no mesmo objetivo.

Continuidade Indica: Mães Mundo Afora

Mães_Mundo_Afora

Domingo passado, 10 de maio, foi comemorado o dia das mães em diversos países do mundo, incluindo o Brasil. Nesse dia especial, entrevistamos Carol Medeiros, uma mãe brasileira que vive há 3 anos na Holanda, descobrindo os desafios e as delícias de ser uma mãe migrante. Carol nos contou, entre muitas outras coisas, sobre a experiência de educar uma brasileirinha longe de seu país. Para ela, o melhor e o pior dessa experiência residem no mesmo fato: criar sua filha longe de suas próprias referências.

Oferecer uma educação multicultural para os nossos filhos pode ser delicioso, mas, em alguns momentos, isso também pode significar uma vivência muito solitária para uma mãe expatriada. Viver em um país estrangeiro, sem contar com as experiências compartilhadas com outras pessoas que entendem de que lugar estamos falando, pode gerar uma sensação de alienação e sofrimento. Foi exatamente por isso que Carol, junto com duas outras mães empreendedoras – a jornalista Maila-Kaarina Rantanen e a administradora Carol Rodrigues – fundou a plataforma Mães Mundo Afora.

A missão do Mães Mundo Afora é “construir coletivamente um espaço aberto e estimulante de informação, formação, conscientização e troca de experiências entre mulheres que vivem no exterior, no intuito de criar uma rede virtual de apoio, acolhida e empoderamento feminino”. Construir pontes é um dos objetivos do Continuidade e, por isso, nos identificamos tanto com esse projeto.

No site do Mães Mundo Afora você vai encontrar textos inspiradores, escritos por mais de 50 mulheres brasileiras em diversas partes do mundo, que abordam temas como o ensino do português como língua de herança, a manutenção das raízes brasileiras sob a perspectiva da maternidade e os desafios da maternidade de mulheres brasileiras pelo mundo.


Vão lá conferir essa iniciativa maravilhosa!

https://www.maesmundoafora.com/

Sigam o Mães Mundo Afora no Instagram:

https://www.instagram.com/maes.mundo.afora/

Histórias de Migração: Flora Regis Campe

Oi, eu sou Flora. Sou soteropolitana, psicóloga e apaixonada pela busca incessante de compreender o olhar do outro e a sua forma de construir a realidade. Já morei em diversos estados do Brasil antes de decidir sair dele, ou seja, a migração já fazia parte de minha vida antes mesmo de eu, de fato, emigrar.

Aos 17 anos, voltei a viver na capital baiana, almejando entrar para a universidade de psicologia e, ali, firmar pouso para o resto da vida (bem dramática). Já na Universidade, no ano de 2001, eis que um estudante alemão aparece na minha vida e me faz mudar de opinião em relação a criar raízes em Salvador. Com isso, me deixei levar para Bremen, cidade dos Saltimbancos, no norte da Alemanha.

Morando em solo alemão desde 2004, fui em busca de reconhecer meu diploma de psicóloga. Foram 4 anos de muitas dúvidas e noites de estudo numa língua completamente nova. Eu, pessoa tímida, um pouco insegura e muito observadora, fui, passo a passo, sem pressa, passando nas provas orais de final de curso e aumentando minha autoestima de psicóloga migrante no país das grandes cabeças da psicologia ocidental.

Acabei me tornando mestra em psicologia, especializada nos efeitos psicossociais da migração. Fui trabalhar na área de assistência familiar, utilizando todo o meu conhecimento para empoderar pais e filhos nos seus desafios de educar e se tornarem independentes.

A psicologia clinica sempre foi a minha grande paixão. É no consultório e nos trabalhos de grupo, empoderando migrantes e alemães, que eu me realizo plenamente em minha missão de vida.

E o Continuidade Podcast? Nas minhas caminhadas diárias, amava ouvir um podcast muito especial e veio daí a ideia de começar a produzir o meu próprio conteúdo na podosfera. Ser encorajada por minha parceira de muitas aventuras reflexivas foi essencial para sair da zona de conforto e me mostrar, com todas as minhas imperfeições.

Ah, como é desafiador falar de mim mesma (muitas vezes com o português defasado), mostrar a cara! Mas aqui estamos nós, nos motivando mutuamente, sendo apoiadas por outras grandes amigas e amigos, errando algumas vezes, mas aprendendo sempre.


Eu sou Flora e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

Histórias de Migração: Cris Oliveira

Oi, eu sou Cris. Nasci em Salvador e minha história de migração começou muito antes de eu ter consciência de que eu já estava sonhando em me aventurar pelo mundo. Desde criança, sempre fui fascinada por línguas estrangeiras. Mesmo sem entender nada, adorava ouvir, tentar decifrar palavras desconhecidas, repetir as expressões mentalmente. Aos 10 anos, comecei a aprender inglês e, quando via fotos das cidades americanas nos livros, ficava imaginando que eu estava passeando por lá.

O tempo foi passando e eu comecei a fazer planos mais concretos para descobrir aqueles lugares que, até então, só via nos livros. Queria conhecer os 5 “boroughs” de Nova Iorque, ver a ponte de Londres, poder contar minhas próprias histórias de aeroportos, ter amigos espalhados pelo mundo e contar anedotas que terminavam em risos por causa de confusões linguísticas.

O tempo foi passando e eu comecei a fazer planos mais concretos para descobrir aqueles lugares que, até então, só via nos livros. Resolvi, então, organizar um intercâmbio para quando terminasse a faculdade de Letras, mas, antes de concretizar esses planos, acabei conhecendo um polonês-alemão que me fez mudar o destino de minha viagem. Fui parar em Bremen, na Alemanha, uma cidade sobre a qual não sabia muita coisa. Mal sabia eu que estava iniciando a minha mais importante viagem. A viagem para dentro de mim mesma, onde eu aprenderia a me perceber de forma diferente, a me reinventar várias vezes e, com isso, me tornar uma versão mais segura de mim.

Hoje, sou professora de adolescentes que acabaram de chegar de vários lugares do mundo e, através de seus olhares, acabo revisitando minha própria história de imigração continuamente.

O Continuidade Podcast me ajuda a organizar minhas reflexões a estabelecer contato com outras pessoas e a descobrir outras partes de mim.

Eu sou Cris Oliveira e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?