Crescer entre duas culturas

Crescer entre duas culturas é um privilégio incrível. Uma das grandes maravilhas da qual podemos desfrutar quando a vida nos oferece essa chance é a de crescermos falando duas ou mais línguas, mas as oportunidades que acessamos ao crescer entre duas culturas vão muito além do bilinguismo.

Uma pessoa que cresce com duas ou mais culturas desenvolve, de forma muito natural, a habilidade de entender o mundo de um jeito mais flexível e de aceitar mais facilmente a diversidade das pessoas. Isso é uma qualidade fundamental para a construção de uma sociedade mais tolerante e aberta às diferenças. Infelizmente, as coisas se complicam um pouco quando os adultos envolvidos na formação dessas crianças não têm uma relação muito bem equilibrada com essa multiculturalidade.

Quando adultos comparam, julgam, e desqualificam as culturas que fazem parte da identidade de uma criança, acabam contribuindo para gerar conflitos de lealdade na cabeça dela. Muitas vezes a gente alimenta esses conflitos com atitudes banais e impensadas do dia a dia, sem nem nos darmos conta de seus potenciais destrutivos. Isso acontece, por exemplo, quando insistimos em perguntar às crianças se elas se sentem mais “isso” ou “aquilo”, quando perguntamos de onde elas são e desacreditamos suas respostas (de onde você é? Mas de onde você é mesmo?) ou quando falamos mal de uma das culturas às quais ela pertence.

Imagem: Brad Dorsey por Pixabay

Crianças gostam de se sentirem pertencentes, de fazer parte do grupo e não de destoar dele. Por isso, numa sociedade que supervaloriza a monoculturalidade, uma criança que pertence a duas culturas pode se sentir envergonhada de uma elas, caso essa cultura não tenha grande aceitação e reconhecimento positivo dentro da sociedade majoritária. Cabe aos adultos responsáveis pela educação e formação dessas crianças mostrarem a elas que pertencerem a culturas diferentes é um presente e uma oportunidade e não motivo de se envergonhar.

A melhor forma de conseguir fazer com que a multiculturalidade seja uma coisa natural, ao invés de representar um peso para as crianças, é trabalhar os nossos sentimentos em relação à nossa própria pluralidade e também à pluralidade dos outros. Crianças aprendem através dos modelos que damos a elas. Quando elas perceberem que seus pais celebram a própria multiculturalidade, que identificam nelas as suas potencialidades e as encaram com o mesmo respeito e aceitação, há grandes chances de as crianças se espelharem em seus exemplos.

Imagem: edsavi30 por Pixabay

*Por Cris Oliveira

Imagem de Destaque: Alexas_Fotos por Pixabay

Do Chimarrão ao Tucupi

O Brasil é enorme e plural. De norte a sul, segundo o Censo 2020 do IBGE, o nosso país possui mais de 211 milhões de habitantes vivendo em 5.570 municípios. Pouca coisa, né? Diante dessa enorme quantidade de pessoas e considerando a nossa história, marcada pela influência de diversos povos do mundo, como definir uma única cultura brasileira?

O idioma nos une, não podemos negar. Somos um país continental onde há somente uma língua oficial, o português. Mas os regionalismos são tão presentes na linguagem que é quase como se falássemos vários “portugueses” diferentes. Os diversos sotaques trazem uma riqueza cultural imensurável para o idioma que herdamos dos nossos antepassados europeus.

Quando vivemos no Brasil, nossa identidade cultural está muito ligada à região onde nascemos e/ou crescemos. Além do sotaque, o nosso vocabulário, os costumes, as crenças e até as comidas do dia a dia podem ser completamente diferentes se você, por exemplo, é de Manaus ou de Florianópolis.

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Tangerina, Mexirica, Bergamota? Como é o nome desta fruta na sua cidade?

Quando saímos do Brasil, isso muda um pouco de figura. A gente se depara com a visão do povo local, que não sabe da nossa missa a metade, e nos coloca a todos num único potinho: brasileiros. E não é só isso, a gente também acaba se identificando através da nação de onde viemos e nos unimos a nossos compatriotas vindos de tudo quanto é canto do Brasil.

Os perfis regionais já não fazem mais sentido e passamos a ser todos enquadrados dentro do mesmo estereótipo. Falando nisso, temos um episódio que fala um pouco sobre esse tema, dentro do triste contexto da xenofobia. Vale a pena escutar! É o episódio 18 da primeira temporada, clica aqui pra ouvir.

E você? Como vocês se sente vivendo no exterior? Como você lida com essas questões ligadas à sua identidade cultural? Conta para a gente aqui nos comentários!

*Por Lali Souza

Fonte:

Censo 2020 IBGE: https://censo2020.ibge.gov.br/sobre/numeros-do-censo.html

Brasil diferentão

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“O brasileiro precisa ser estudado”. Todo mundo, alguma vez na vida, já ouviu essa expressão. A verdade é que todas as culturas têm suas singularidades. São aquelas “coisinhas” bem típicas e que dão uma sensação gostosa de pertencimento. É o nosso jeitinho.

Sabemos, não é exatamente essa a intenção mais usada para falar de “jeitinho brasileiro”, mas, nesse post, vamos ressignificar essa expressão, ok? Aqui, vamos tratar esse “jeitinho” como aqueles hábitos corriqueiros da nossa gente, aquilo que é típico da nossa cultura em geral.

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Uma coisa comum no Brasil pode causar muito estranhamento para pessoas de outras nacionalidades. Um exemplo? Somos conhecidos (e até nos orgulhamos, né?) pelo nosso calor humano. Abraços e beijos são parte da nossa demonstração de afeto e não vemos nada demais em dar aquele abração numa pessoa que acabamos de conhecer. No entanto, há culturas em que o toque é algo bastante pessoal e esse nosso calor pode ser visto como uma invasão de privacidade, então, cuidado! Não saia por aí distribuindo abraços se você não tem certeza de que a outra pessoa está no mesmo clima.

“A gente se encontra sete e meia, oito horas”. É assim que você costuma marcar um horário para encontrar a galera? Pois saiba que, em muitos países, isso não faz o menor sentido. Como assim um intervalo de MEIA HORA no agendamento? Em muitas culturas, a pontualidade é sinal claro de boa educação e nem todo mundo está acostumado aos atrasos que consideramos perdoáveis. Se uma festa está marcada para às 20:00h, o anfitrião espera que você chegue no horário certinho.

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Ah! E não diga “vamos marcar” se você, de fato, não quiser agendar um compromisso com a outra pessoa, viu? Ela pode levar muito a sério esse “vamos” e ficar até ofendida caso você, simplesmente, suma depois. Na semana passada, nossa entrevistada, a Dra. Uju Anya, nos contou uma história que mostrou bem como outras culturas levam a sério esses convites. Clica aqui pra ouvir!

Nos bares brasileiros, ainda é comum aquela mesa cheia de gente e uma garrafa de 600ml no meio para todo mundo compartilhar. Um clássico? Nem sempre! Esse é um costume bem nosso mesmo, mas, em outros lugares, o “normal” é cada um pedir o seu copo (chopp) ou longneck. O brinde é coletivo, já a cerveja… É cada um no seu quadrado.

Desde criança, aprendemos sobre a importância da higiene bucal e, por isso, é a nossa cara levar escova e pasta para escovar os dentes no banheiro do trabalho depois do almoço. Esse é outro hábito que muitos gringos não entendem. O mesmo vale para tomar banho todos os dias, às vezes mais de um.

Como esses, muitos outros hábitos brasileiros são vistos como “diferentões” mundo afora. Além de render boas risadas, essa reflexão é importante para entendermos que, o que é comum para nós, pode ser estranho – e até mesmo rude – numa outra cultura. Se você mora em outro país, é muito bom manter vivas as suas raízes, mas também ter atenção ao que, naquele lugar, são valores fundamentais.

Lembre-se: adaptar-se com respeito não significa aculturação. E viva a multiculturalidade!

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