Do outro lado da migração: a história de Helena Lara

Oi, eu sou Helena Lara. Eu sou psicóloga e moro aqui no Brasil, em São Paulo capital. Quem migrou foi meu filho, que se chama Guilherme. Eu não sei dizer exatamente qual foi a motivação dele de migrar, mas eu posso dizer o que foi que acentuou a vontade dele de ir embora. Desde que o Guilherme era pequeno, por exemplo, já com uns 7 anos de idade, ele dizia que ia embora para os Estados Unidos. Eu achei estranho no começo, porque nem na nossa família e nem no nosso grupo de amigos não tinha, na época, ninguém que tivesse migrado. Ele não tinha escutado relatos de migração de ninguém para poder se sentir encantado com isso. Como um apreciador de basquete, ele gostava muito de Michael Jordan. Isso e a vontade de jogar basquete acentuaram a vontade dele de ir para os Estados Unidos.

Quando ele entrou para o ginásio, eu o coloquei em um curso de inglês e ele amava, se dedicava bastante. Conhecia muito sobre os Estados Unidos e gostava de assistir programas americanos, até cobria as legendas para poder praticar melhor o idioma. Eu brincava, dizendo que ele tinha nascido no país errado. Com toda certeza, chegou um dia em que decidiu ir e foi.

Ele foi em 2014 e nós usamos as chamadas de vídeo para conversar. De certa forma, é gostoso, pois ele me mostra os lugares onde está, e eu posso conhecer um pouco da sua vida lá. Isso alivia muito! Eu sempre falava: no ano que vem vou vê-lo. Mesmo sem ter uma organização de fato para isso, sempre falava e isso me acalmava e aliviava a minha saudade. Meu filho faz falta. Ele é muito companheiro, inteligente, e eu acho muito bom conversar com os filhos, mas eu sei que ele está feliz. Ele me conta que se sente em casa lá. É bom escutar isso e não tem como não desejar que ele também siga com essa sensação de pertencimento! 

A única coisa é que a saudade é forte, ela arrebenta com a gente. Após ele ir, em 2016, a saudade foi apertando de fato e foi muito interessante notar que, quando acordava, muitas vezes tinha a sensação que tinha havia abraçado ele, tocado nele. A minha filha Fernanda escutou este meu relato, ficou quietinha e me deu um saquinho de presente no dia das mães. Um saquinho bem leve: era uma bolsinha para passaporte com o dinheiro da passagem! Uau! Com este lindo presente dela e do meu genro, em 2017, nós três embarcamos e fizemos uma surpresa para o meu filho, com a ajuda da minha nora (que na época era namorada e hoje é a sua esposa!). Foi tão bom!

Quando ele veio para o Brasil foi tão gostoso também! Reunimos a nossa família, que é bem grandinha! Foi tão bom fazer o bolo que ele gosta, caprichar no café da manhã, ver ele no sofá, estar ali perto. É a coisa mais desejada do mundo! E ele também voltou quando a Fernanda se casou e foi muito importante para todos nós! A Fernanda falou que não se casaria se ele não estivesse aqui, porque ele é importante e próximo dela.

E ele também retribuiu a nossa surpresa, me fazendo outra junto com a Fernanda. Foi maravilhoso abrir a porta e vê-lo! 

Ele foi o primeiro filho que saiu, foi meu primeiro sentimento de ninho vazio. E todas as vezes que conversava com a minha filha, que sempre teve um ótimo relacionamento com o irmão, terminamos falando que tínhamos a certeza que ele estava feliz, realizado. Isso trazia aconchego para nós!

A imigração dele foi muito desejada e ele faz tudo para dar certo, já conquistou o seu visto de trabalho. Ele quer ficar lá e eu imagino que vai ficar.  Algumas pessoas me dizem “ele vai voltar”, talvez pensando que isso me consola, mas para mim está bem definido e claro, desde o dia que ele foi. Quando fui visitá-lo, vendo aquele país, eu mesmo falei para ele ficar lá. É um bom país para se desenvolver, inclusive no seu trabalho. Ele tem mais alcance nos aspectos que ele valoriza. 

Eu admiro essa vontade dele de imigrar. Eu nunca tive essa determinação de mudar de país, mas pelo fato dele estar lá, eu penso ou brinco de tentar passar alguns meses. Não visualizo uma mudança, pois eu acho que ficaria dividida, porque tenho minha filha no Brasil. Se um dia ela e o meu genro se mudassem, talvez eu ficaria um tempinho com um, um tempinho com o outro. Quem sabe? Ainda tem a questão do idioma, que seria um pouco complicado. Acho que teria que ser algo forte para eu sair daqui do Brasil. 

Nós conversamos há pouco tempo sobre a imigração dele e acho que, para quem imigra, o mais difícil é não estar perto nos momentos e datas importantes da família, como aniversários ou a perda de um familiar, por exemplo. São diversos os fatores que impedem a pessoa de estar rapidamente aqui. Porém, são escolhas em que se ganha em diversos aspectos e balanceia as perdas. Ele participa da forma que dá e que hoje é possível, como pelas chamadas de vídeo. 

Eu desejo que tudo seja possível para ele, que tudo dê muito certo, aliás, já está dando! Ele se sente em casa lá e é bom vê-lo assim. Desejo também que ele viva feliz com a esposa dele, que é uma pessoa muito guerreira! Que continue a ser esse homem maravilhoso que ele é! E, se pudesse pedir mais, seria alguns netinhos gringos! Já pensou?

Nós do Continuidade agradecemos imensamente à Helena Lara, por nos presentear com o olhar e a história da sua família. Que vocês possam sentir o aconchego que sentimos daqui ao escutá-la e a ao ler as suas palavras! Vielen Dank, Helena! Obrigada! Thank you!

Histórias de Migração: Silvana Fernandes

Olá, eu sou Silvana Fernandes e venho de uma cidadezinha perto de São Paulo, chamada Santa Isabel. Santa Isabel não tem tanta coisa, mas tem muitos sítios, natureza e algumas cachoeiras. Na minha família, somos dois irmãos e eu.

Eu vim pra Alemanha em 1988. Dia 08 de maio de 1988. Então, amanhã fará exatmente 33 anos que eu estou na Alemanha. Eu vim pra cá porque  que eu tinha um amiga que estava morando aqui. Eu trabalhava em um banco no Brasil e estava bem. Era sub-gerente e, quando pedi demissão, meu chefe falou: “você está louca? Você vai ficar no meu lugar!”. A ele eu respondi: “não, eu não quero. Eu quero é viajar e conhecer o mundo.” E foi isso que eu fiz. Comprei uma passagem de um ano e vim pra Alemanha.

Nesse meio tempo, conheci um amigo do marido de uma amiga que começou a me escrever e começamos um romance. Eu cheguei aqui, a gente se encontrou, se deu bem e acabamos indo morar juntos. Essa relação durou 19 anos e, dela, eu tenho dois filhos, Maurício e Juliana. Maurício já vai fazer 30 anos em junho e a Juliana vai fazer 25 agora em maio.

Depois do término do meu relacionamento eu comecei a cuidar de mim. A princípio eu me sentia como o bagaço de uma laranja. Eu era a mulher do Torsten, a mãe do Maurício e da Juliana. Daí, eu fui procurar quem que era a Silvana. Foi quando eu comecei a pensar no que que eu ia fazer.

Durante todo esse tempo, eu só trabalhava em gastronomia e decidi fazer uma reorientação profissional. Estudei Comércio Exterior aos 46 anos. Terminei o curso em 2 anos e, poucos dias depois de me formar, já estava assinando o meu primeiro contrato. O que, a princício, era só para cubrir as férias de alguém, acabou se tornando um contrato permanente e eu estou nesta firma até hoje. Comércio exterior era, na verdade, exatamente o que eu queria ter estudado no Brasil. Eu tinha passado no vestibular, mas, na época, eu trabalhava no centro de São Paulo e a faculdade na qual eu tinha passado era em Sao Bernardo e não tinha como eu sair às 6 horas do banco e estar às 7 horas na faculdade. Às vezes, na vida, os nossos sonhos demoram um pouco para se concretizarem, mas eles chegam. Hoje, eu adoro minha profissão.

Quando eu cheguei aqui na Alemanha, eu não tinha muitos amigos brasileiros e, com os alemães, é mais difícil de a gente se entrosar. Apesar disso, eu tenho a Anne, uma amiga alemã daquela época, e nós somos próximas até hoje. No começo, eu não gostava muito da Alemanha. Eu já tinha morado no Brasil entre 1993 e 1994 com meu marido, na época que eu ainda tinha apenas meu primeiro filho. No Brasil, nós abrimos um supermercado, mas a inflação no país estava muito alta e não conseguimos manter o negócio. Desmontamos tudo, vendemos e voltamos pra Alemanha.

Meu marido sempre quis morar fora, então, em 2000, fizemos nossa segunda migração. Fomos para Portugal, desta vez com dois filhos, e vivemos um ano lá. As crianças iam para a escola, mas como eu sempre falei português com meus filhos, elas não tiveram dificuldade. Apesar do português de Portugal ser diferente, eles conseguiam se comunicar.

Mas Portugal também não deu certo. Na mesma época, os meus pais estavam me chamando para voltar pro Brasil porque eles tinha uma padaria e queriam que a gente a gerenciasse, para que eles pudessem se aposentar. Nós voltamos para lá, mas, infelizmente, o meu agora ex-marido não se adaptou à situação e acabou voltando antes.

Eu ainda tentei continuar vivendo no Brasil com as crianças, mas também não deu e acabei voltando para cá em 2002. Neste ano, minha filha mais nova entrou para a escola aqui e, em um determinado momento, me deu um clique e eu pensei: “agora eu vou ser feliz na Alemanha!”.

Parece que funcionou, porque, a partir daquele ponto, eu passei a adorar este país. Eu, por exemplo, sempre quis estudar alemão. Nessa época, já falava a língua, sempre fui me aperfeiçoando e olha… minha decisão de ser feliz aqui deu certo. Eu adoro a Alemanha e gosto muito de morar aqui.

Eu nao lembro de ter tido experiências ruins. Só no começo, quando eu ainda falava inglês. As pessoas me tratavam muito bem nas lojas porque, acredito, achavam que eu era turista, mas quando eu comecei a falar alemão e elas percebiam que eu estava ali para ficar, já me tratavam um pouco diferente. No entanto, sempre tive uma personalidade forte e, mesmo quando as pessoas reagiam mal e gritavam, por exemplo, quando eu trabalhava na gastonomia, eu sempre revidava: “eu não sei falar alemão, mas eu não sou burra!”

Uma das coisas que mais me enchem de orgulho, realmente, é o fato de eu ter me separado, estar aqui na Alemanha e ter lutado, mesmo aos 46 anos, para me reorientar profissionalmente, ter conseguido fazer o que eu gosto.

Quando ainda era casada, meu marido cuidava de todos os papéis e eu, apesar de saber alemão, tinha a escrita bem ruinzinha. Porém, falei pra mim mesma que eu ia me virar e fiz tudo que eu precisava fazer, mesmo com medo. Eu, as vezes, pensava: “ai meu Deus, como é que eu vou estudar economia em alemão?” Mas eu fui lá, fiz e deu tudo certo.

Daqui a dez anos eu gostaria de estar aposentada e, se eu estiver em um relacionamento, de poder continuar morando aqui na Alemanha, mas passar uns três ou quatro meses no Brasil. Eu não tenho certeza se vai ser possível porque a novidade é que agora, também no mês de maio, eu vou ser avó de uma menina. Isso significa que a minha família já vai entrar na segunda geração de migrantes. A namorada de meu filho também nasceu aqui, mas é descendente de chilenos. Vai ser uma bela mistura!

A minha filha tem muito desejo de morar no Brasil. Ela adora e acha que lá é o país dela, muito mais do que aqui. Sempre digo pra ela terminar a sua faculdade, fazer o que ela tiver de fazer e ir pro Brasil tentar sim. Porque não? Eu dou a maior força.

Se eu pudesse voltar o tempo e dar um conselho para mim mesma, diria: “aprenda a língua o mais rápido possível”. Na minha opinião, você só se integra no país onde está morando se souber falar a língua. E mais: “não se rebaixe. Você não é menos do que ninguém, você só não sabe falar o idioma… ainda”.

Eu sou Silvana Fernandes e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

História de Migração: Stela Zaleski

Olá, eu sou a Stela, tenho 35 anos e nasci em um dos lugares mais lindos do mundo: Maceió, Alagoas, Brasil.

Aos 17 anos vim morar na Alemanha, que era meu sonho desde quando estive aqui pela primeira vez, com 7 aninhos. Com 12 anos, vim mais uma vez visitar o país que se tornaria um dia meu lar. Minha mãe já tinha vindo quase 2 anos antes de mim para morar. Quando ela veio, eu fiquei no Brasil pra concluir a escola e vir logo depois.

Chegando aqui tive duas experiências que me marcaram muito. Primeiro, que apesar da minha mãe viver e estar casada na Alemanha, eu não tive direito a um visto permanente. Durante um ano, ia a cada três meses buscar um visto de turista, sempre com medo de não receber e ser mandada de volta. Não queria ficar mais longe da minha mãe. Outra coisa que também foi muito difícil foi não ter amigos e não me sentir pertencente a um grupo.

Bom, tudo isso passou. Consegui, então, um visto de um ano, fiz estágios em dois lugares. No meu primeiro estágio, percebi bem rápido que não era minha praia. Já no segundo, logo vi que adorava trabalhar com gente. Isso é mais a minha cara. E assim foi. Fiz um ano de estágio e fui contratada pra fazer um “Ausbildung” (curso profissionalizante) que tinha duração de três anos. Com isso, consegui mais três anos de visto e eu sabia também que, se depois eu fosse contratada, tendo um emprego fixo, poderia ficar.

A minha primeira amiga aqui na Alemanha foi e é minha irmã e comadre também, Cris Oliveira. Fizemos amizade muito rápido no curso de alemão, mas lá ainda não sabíamos que nos tornaríamos irmãs 😘. Nossa história é um caso à parte. Fazer amigos aqui na Alemanha não foi nada fácil e se sentir pertencente a um grupo, diria que “danou-se”.

Depois de doze anos vivendo aqui, frequentando festas que minha comadre sempre me levava, e onde normalmente também estavam as mesmas pessoas, ainda assim não conseguia fazer conexões para além das festas, apesar de me dar bem com todo mundo. Pelo menos era o que sentia. Até que um dia abri meu e-mail e vi um convite pessoal de um deles me chamando para ir a uma festa na sua casa (onde provavelmente eu iria sem convite mesmo, levada por minha comadre🤣🤣🤣).

Como já falei, eu provavelmente iria de qualquer jeito, mas ter sido convidada daquela forma me deu uma sensação de ser pertencente a um grupo. Não sei explicar exatamente porque, mas essa experiência particularmente me marcou bastante.

Toda minha história aqui, na verdade, me enche de orgulho. Cheguei, tive alguns probleminhas com meu visto e o fato de não ter meus amigos por perto. Na época também não existia WhatsApp, Skype e etc. Isso teria facilitado bastante a minha vida. Conheci meu namorado assim que cheguei na Alemanha. Com ele, casei, tive três filhos, construímos uma casa e durante quatorze anos fomos um casal.

Durante todo esse tempo, eu fui e fiz diversas coisas aqui. Em 2016, passei a trabalhar como autônoma. Foi bom enquanto durou e ano passado resolvi, a princípio, parar com um pequeno salão de estética no qual eu atendia. Em 2017 um novo capítulo se iniciou na minha vida. Me separei, e agora dou outros rumos à minha vida.

Só posso dizer que fui e sou muito feliz aqui. Continuo morando com meus 3 pequenos homens na casa em que construí com o pai deles e isso facilita minha vida em vários aspectos. O que mais me alegra é ter a certeza de que, mesmo vivendo num país que não é o meu de origem, hoje sei que existiu e existem pessoas deste país que sempre me ajudaram a construir minha história aqui. E eu sou muito grata a cada uma delas.😉

No momento, imagino várias coisas para meu futuro, porém nada ainda muito concreto. Tenho vontade de voltar a estudar, mas no momento isso ainda não tem como se tornar uma prioridade.

Se meu filhos resolvessem migrar um dia, eu acho que eu diria a eles pra terem paciência e a correrem atrás daquilo que querem conquistar ao mesmo tempo. Que dominar o idioma do lugar escolhido é quase que um grito de independência e que eles não devem se concentrar em um único caminho, pois, como sabemos, vários caminhos nos levam a Roma. Diria que também respeitem os valores do lugar escolhido para migrar.

A primeira coisa que eu faço quando volto de férias a meu país de origem é comer, comer e comer. 😂 Isso, além de visitar lugares que me trazem algumas boas recordações, com pessoas que fazem parte da história. 😉 Apesar de ser dificil de eleger o que há de melhor para fazer em Maceió, uma coisa é certa: vai ter praia no roteiro. Tem muitos lugares lindos como as dunas de Marapé, a praia de Paripoeira, as piscinas naturais da Pajuçara, a praia do Francês, a Barra de São Miguel, a Praia do Gunga, São Miguel dos Milagres, Maragogi, a Foz do Rio São Francisco e os Cânions do Rio São Francisco. Esses lugares são lindos demais, e tem praias pra todo gosto. Sem falar nas comidas, que são de comer rezando. 😂

Se eu pudesse voltar no tempo para o dia em que resolvi migrar pela primeira vez, os conselhos que eu diria para mim mesma seriam: aprenda a língua do lugar o mais rápido que você puder, não se desespere, tenha paciência, vá com calma, mas vá em frente. Mas também pare, respire fundo e deixe fluir aquilo que não está sob o seu controle.

Daqui a dez anos eu quero estar falando inglês fluentemente, para poder me comunicar por onde eu passar. Pretendo passear por muito lugares do mundo, mas sempre voltar pra casa, a Alemanha. 😉 Eu acho que ter vivido no Brasil e depois ter vindo pra cá foi uma das melhores experiências que eu poderia ter. Construí uma base sólida e aprendi muitas coisas com essas duas culturas.

Eu sou Stela Zaleski e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

*Por Stela Zaleski

Histórias de Migração: Daniel Castelani

Olá. Meu nome é Daniel Castelani. Sou brasileiro, nascido em Campinas, interior de São Paulo, e editor deste podcast. E não, não é uma “carteirada” eu dizer logo de cara que edito o Continuidade. Na verdade, isto é importante pra caramba, pois foi tendo o privilégio de ouvir todos os episódios em primeiríssima mão que me dei conta do quão migrante sou e de quantas fases eu já vivi e revivi sem nem sentir. Mas deixe-me contar um pouco sobre minha história de migração.

Como disse lá em cima, sou natural de Campinas, onde vivi os primeiros 6 anos de minha vida. Meu pai recebeu, em 1982, uma oferta de emprego em Salvador, na Bahia, sua terra natal, e a família toda se mudou para terras soteropolitanas: eu, minha irmã de 3 para 4 anos, minha mãe, uma paulista de Valinhos, e meu pai, o baiano expatriado que já era mais paulista que nada.

Cresci em Salvador, onde cultivei amizades, aprendi a ser gente e recebi toda sorte de contribuições culturais, mas, no fundo, sempre me senti um “outsider”. Em casa, éramos paulistas e essa dicotomia sempre me acompanhou.

Fui pai muito cedo, aos 18 anos. Minha namorada, a Fran, também tinha um histórico de migração em sua família. Filha de pai gaúcho e mãe do interior da Bahia, foi levada para morar, com apenas dois aninhos, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Voltou com 6 anos para Salvador e acredito que sofreu da mesma dificuldade que eu: uma sensação de não pertencimento.

Após 3 anos de casados, resolvi fazer o caminho inverso de meu pai e voltar para Campinas. Fomos eu, Fran e Bia, minha filha que, com 3 anos, saía de sua terra natal para viver na minha (incrível como repetimos padrões de nossos pais mesmo que de forma inconsciente).

Vivemos por seis anos em Campinas e foram anos mágicos. A cidade é muito gostosa e nos sentimos pela primeira vez como uma família de verdade. Foi um tempo de crescimento e reafirmação para todos nós, mas, um dia, recebi um telefonema com uma proposta de trabalho irrecusável em Salvador. Após uma reunião familiar, decidimos voltar.

Mais 10 anos de Salvador, tempo em que obtive crescimento profissional, construímos uma casa, nos endividamos, enfim, a vida aconteceu.

No final de 2014, após uma série de acontecimentos que culminaram em desemprego e desespero, resolvemos tentar a vida em Santa Catarina, mais precisamente em Timbó, local de onde escrevo este texto para o site do Continuidade.

Estou convicto de que estas mudanças de estado e cidade moldaram boa parte de minha personalidade. Por vezes, me pego pensando em como seria se tivesse vivido na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma casa, como tantas pessoas que conheço. Como seria minha vida?

Mas sabe de uma? Com certeza não teria as experiências que tive, os sotaques que experimentei, nem a diversidade de pensamento e tolerância com o diferente que tenho hoje. De quebra, ainda acho que transmiti para minha filha este gosto por viver em cidades diferentes.

Sou, hoje, fruto das minhas vivências e escolhas e a migração, sem dúvida, faz parte de quem eu sou.

Eu sou Daniel Castelani e esta é minha história de migração, qual é a sua?

*Por Daniel Castelani

Histórias de Migração: Svenja Fritsch

Olá, eu sou Svenja e nasci em Lübeck, uma cidade no estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha. Morar fora sempre foi um desejo meu. Eu sempre fui muito curiosa para conhecer outras culturas, outras realidades e outros contextos geográficos também.

A migração está muito presente na minha história familiar. Minha mãe é austríaca e meu pai nasceu em uma cidade que, hoje, pertence à Polônia. Ainda quando bebê, ele e sua família fugiram para o sul da Alemanha. Viagens para visitar a família sempre foram muito comuns na minha infância, ou seja, desde muito cedo eu tinha consciência de que existiam outras realidades e outras culturas. Eu sou uma pessoa com um histórico de migração, mas isso frequentemente passa despercebido aqui na Alemanha pelo fato de eu ser uma mulher branca que fala alemão sem sotaque.

Minha primeira experiência morando fora da Alemanha foi através de um estágio de 6 semanas em Viena, na Áustria. Este estágio, em uma agência de intercâmbio internacional, fez aumentar em mim a vontade que já existia de viajar e conhecer novas culturas. Nessa época eu conheci pessoas muitos legais, mas eu senti uma conexão toda especial com as da América do Sul.

Aproveitando as oportunidades que a minha faculdade proporcionava, tratei logo de organizar mais um estágio, desta vez no Chile. A minha temporada no Chile deveria durar uns 6 meses e eu acabei estendendo por um ano para realmente poder viver de forma bem intensa tudo o que Valparaíso tinha para me oferecer. Uma curiosidade: Valparaíso me lembra muito Salvador, mas deixa que eu já conto como foi que se deu a minha experiência com o Brasil.

Em agosto de 2009, eu tinha terminado a faculdade e estava muito cansada do mundo acadêmico. Sentia que precisava ganhar distância. Estava numa fase meio de crise, sem saber exatamente o que eu queria para a minha vida. Eu meditava muito. Um dia, escutando uma música de um documentário, eu tive uma espécie de visão. As imagens que me vinham naquele momento me lembravam a Bahia. Não tive dúvida: comprei a passagem para o Brasil e, por via das dúvidas, marquei a viagem de volta pra seis meses depois, saindo de Santiago do Chile, que eu já conhecia e onde tinha amigos.

Minha ida para a Bahia foi como uma espécie de chamado. Depois disso, foram muitas coisas se sincronizando e me mostrando que seria a decisão certa ir para lá. Chegando no Brasil, eu fui me deixando levar pelos acontecimentos. Prorroguei meu visto de turista, deixei minha passagem vencer e fui ficando. Morei em Salvador, na Chapada Diamantina, e em Imbassaí, que pertence ao município de Mata de São João. Eu trabalhava em troca de alojamento e ia me virando como dava.

Voltei para a Alemanha somente porque meu pai estava completando 70 anos e eu queria fazer uma surpresa para ele. Nessa ocasião, já estava bem claro para mim que, depois da festa de meu pai, eu organizaria minhas coisas e migraria de vez para o Brasil. Foi exatamente isso o que eu fiz. Voltei pra Bahia e fiquei lá por um ano. Acabei voltando outra vez para a Alemanha porque, depois de um término bem complicado de relacionamento, eu precisava me recuperar tanto emocionalmente quanto economicamente.

Morar no Brasil, para mim, foi como um processo de cura. A Bahia e a Alemanha estão, no meu ponto de vista, em dois polos extremos e eu gostei muito de ter aprendido uma forma diferente de conviver. Aprendi muito sobre solidariedade, gostei da leveza que as pessoas têm para se entregarem às coisas e como a arte é presente em tudo na Bahia. Além disso, eu gosto muito da culinária baiana e até hoje sinto falta.

A religiosidade de matriz africana da Bahia também me encanta. A presença de rituais que têm um sentido mais profundo. A conexão com a natureza e com a vida é muito mais forte no Brasil. Fico muito tocada em ver como as pessoas de lá se conectam com suas ancestralidades. Acho que, aqui na Alemanha, a gente vive de forma muito desconectada com nossas origens. Morar fora me ajudou a refletir sobre a minha própria origem. A Bahia me fez entender muito sobre a minha própria cultura.

Por outro lado, é muito difícil conviver com tanta violência. O forte racismo, assaltos, ataques contra a população LGBTQIA+ e a presença sempre constante da polícia me incomodavam muito. Uma vez, eu presenciei uma perseguição policial na qual os policiais dispararam tiros contra os fugitivos, sem se importarem com as pessoas (muitas crianças) que estavam em volta. Também não me sentia muito bem com a constante desconfiança das pessoas, resultado da sua história violenta, de uma realidade marcada por tanta injustiça social e pela clara corrupção.

Mesmo assim, o Brasil continua sendo muito importante para mim. Eu falo cinco idiomas e sinto que cada parte de minha personalidade se revela de forma diferente quando falo cada um deles.

Com o português, eu sinto que posso expressar uma parte muito forte de minha personalidade. O Brasil tem um status muito especial para mim, pois foi lá que eu consegui entrar em contato com minhas paixões de dança, de música e de culinária. O Brasil me ajudou a me conectar com minha alma. Aqui na Alemanha muita gente me pergunta se eu sou brasileira e eu respondo “não no passaporte, mas no sentimento sim”.

Eu sou Svenja e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

*Depoimento transcrito por Cris Oliveira

Histórias de Migração: Mariana Riccio

Nascida e criada em terras soteropolitanas, apesar de ser bisneta de italiano, minha história de migração começou mesmo com uma pergunta que minha mãe me fez: “filha, por que você não faz um intercambio? ”

Até 2006, nunca havia pensando em sair do país, muito menos de Salvador. Na minha familia até tinha alguns casos de migração, mas eu vivia a vida tranquilamente, tinha questões internas em relação à cidade e a mim mesma, mas não era nada demais.  Adentrei 2007 embarcando para minha primeira viagem internacional e completamente sozinha, fui fazer um interncambio de 6 semanas em Malta.

Posso dizer que foi a partir daí que uma formiguinha me picou e a sensação de “preciso viver mais disso e conhecer mais lugares” nunca mais parou de coçar. Em 2008, me formei em jornalismo e, dois meses depois, embarquei para um novo intercambio, desta vez de um ano, em São Francisco, California. 

Depois que retornei ao Brasil, fiquei pingando de emprego em emprego, de cidade em cidade. Cheguei em Salvador, depois morei em São Paulo, passei um período no Rio procurando emprego, voltei pra Salvador, fiz campanha política no interior da Bahia.

Quando arranjei um emprego fixo, entrei em um ritmo de vida mais estável na minha cidade natal. Mas sabe aquela coceirinha? Continuava ali.  Comecei a pesquisar sobre migrar para a Califórnia, já que tinha feito grandes amigos por lá e conhecia bem o local. Depois, cheguei a estudar francês pensando em migrar para o Canadá. Enfim, pesquisava aqui e acolá, mas nada se concretizava.

E foi num show do Maroon 5, em março de 2016, que minha melhor amiga me disse que estava pensando em migrar para Portugal através dos estudos (confira o relato dela aqui). Quando ela acabou de falar qual era a sua ideia, eu disse sem dúvida alguma: “também vou”.

Neste mês de setembro, completo 4 anos em Portugal. Honestamente, posso dizer que tem sido uma relação agridoce. Aqui conheci pessoas muito especiais, ganhei o título de mestre pela Universidade do Porto, aprendi mais sobre pertencer, sobre como é díficil criar laços depois dos 30, passei o pão que o diabo amassou para consegui um emprego, bati de frente com as burocracias da migração e do dia-a-dia, ouvi muito “não sei como é no Brasil, mas aqui…”.

Mas também foi aqui, bem no inicio da minha aventura em terras lusitanas, que conheci um português muito tímido e gentil, que entrou na minha vida e fez tudo ficar mais leve e fácil. Hoje somos casados e estamos prestes a receber o nosso primeiro filho.

Eu sou Mariana Riccio e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?


*Por Mariana Riccio

Histórias de Migração: Karina Nery

Oi, eu sou Karina e acho que a minha vontade de morar fora sempre existiu ou, pelo menos, desde quando fui intercambista na Califórnia, aos 15 anos, e ouvi minha avó me falar, depois da minha high school graduation, para casar com meu namorado/vizinho e ficar por lá mesmo! Mas um terremoto nos levou de volta ao Brasil mais cedo.

Anos depois, comecei a ensinar inglês como hobby, mas terminei me apaixonando por ser teacher! Quando se ensina línguas, acredito que o mundo se abre mais ainda. Você passa a ter contato com a cultura de outros países, sem falar nas novas amizades com pessoas viajadas. Junte a isso o fato de eu gostar muito de filmes, séries e músicas em inglês. Minha cabeça estava sempre em outros mundos.

Quando contei aos meus pais, a minha irmã e até ao meu chefe que estávamos no processo de morar fora, eles foram unânimes em dizer coisas do tipo “sempre achei que fosse você quem ia morar em outro país e não sua irmã” (que já mora há mais de 10 anos na Alemanha), “já não era sem tempo”, “é sua cara mesmo”.

Claro que todos sentiram um misto de felicidade e tristeza, mas isso fica para uma outra história. Essa aqui se mistura com outra, e conta que meu marido, companheiro de mais de 20 anos, não teve a chance de fazer intercâmbio aos 15, como eu, e foi ter sua experiência depois de casado na Nova Zelândia. Na verdade, essa foi nossa primeira tentativa de migrar.

A ideia era ele ir na frente, fazer um curso para aprimorar seu inglês, conseguir um emprego na área de TI (que é área de demanda em muitos países), trocar o visto de estudante por um de trabalho e dar o OK para eu ir atrás, levando meu mais velho, que na época tinha uns 11 anos. Simples assim e perfeito, não?

Só que não deu certo. Eu acredito que fomos ingênuos demais ao basear nossos planos apenas na experiência de alguém, acompanhando sua história através de um blog. Também porque acredito ter sido um desejo mais dele do que meu. Eu estava em outro momento de vida, assumindo um cargo importante, além de ficar preocupada com a adaptação do meu mais velho e de afastá-lo do seu pai. Todas essas coisas se embrulhavam dentro de mim. Resultado? Plano B: um mês viajando pela Nova Zelândia em lua-de-mel e retorno para o Brasil. Já de volta, mudamos totalmente nossos planos e passamos a falar em fazer uma cerimônia de casamento e um filho. Não necessariamente nessa ordem.

Depois de cumpridos os planos do retorno e nosso filho já com 4 anos, voltamos a falar sobre migração. Talvez inspirados em mais um casal de amigos que estava se preparando para deixar o país. Talvez pela situação de insegurança em que vivíamos. Talvez porque estávamos mais maduros. Só sei que, dessa vez, algo muito forte clicou em mim e quem saiu pesquisando, planilhando e se esforçando para juntar até o último centavo fui eu!

Não escolhemos a Alemanha, ela nos escolheu. Como disse, a minha irmã já morava há mais de 10 anos aqui. Quando meu cunhado soube do nosso plano de morar fora e que podia ser no outro lado do mundo, na Nova Zelândia, ou no lugar mais frio do mundo, no Canadá, me disse: “então venham logo pra cá! Pense bem, o outro lado do mundo significa que sua mãe vai ter de escolher entre visitar você ou a sua irmã. Você não vai querer fazer isso com ela, não é?”

Na verdade, percebi que eles ficaram muito felizes com a ideia de ter mais alguém da família por perto e ofereceram a casa deles até a gente se estabelecer, além de todo o suporte necessário. Assim é bem mais tranquilo, não é mesmo?

Eu nem consegui dormir mais direito porque a conversa fluiu de uma forma tão rápida e as coisas foram, ligeiramente, se encaixando. Tanto que, no outro dia, meu cunhado voltou para casa trazendo informações oficiais do site do governo. Nesse mesmo momento, começamos a discutir salários e custos de vida e, então, ele me levou pra conhecer o apartamento do seu irmão para eu ter uma ideia de outras possibilidades de moradia, também pra conversar e ouvir outras opiniões.

Na volta, volta liguei logo para o meu marido:

– Esquece o frio do Canadá e a distância da Nova Zelândia, eu já estou vendo apartamento pra gente morar aqui na Alemanha!

– Calma, vem pra cá que a gente conversa.

– Ah… Não tem nem o que pensar!

– Claro que tem! Tenho que pensar em um fato muito simples: a língua alemã é considerada por muitos uma das mais difíceis do mundo!

Mas, segundo meu cunhado, esse nosso desafio é comparável a passar -50°C de frio no Canadá ou a morar lá onde o vento faz a curva. Eu voltei pro Brasil (mas acho que, por mim, já ficava esperando meu marido e a mudança) e a gente conversou bastante, fizemos várias listinhas de prós e contras e começamos a gincana dos documentos, do desapego, das despedidas.

Eu sou Karina Nery e esta é a minha história de migração. Qual é a sua?

Histórias de Migração: Clarisse Och

Irmã mais nova de uma família de 3 irmãos, nasci em João Pessoa, na Paraíba. A minha história de migração começou desde muito cedo e sempre fez parte da minha vida.

Aos 4 anos de idade, fui morar no Canadá. O meu pai, professor universitário, fez doutorado na área de Engenheira Biomédica numa província de difícil pronuncia: Saskatchewan. Apesar de muito nova, ainda consigo lembrar que, quando chegamos em casa depois de uma longa viagem, eu pedi para ligar a TV e colocar nos Trapalhões.

Foram quase 5 anos morando no Canadá. Na adolescência, eu sentia uma vontade enorme – até hoje, para mim, inexplicável – de morar fora novamente. Vivia insistindo para meus pais bancarem um intercâmbio, mas não rolava. Até que comecei a vida universitária e encontrei um leque de opções de intercâmbios. Munida de argumentos, conversei com meus pais, que autorizaram (e financiaram) a minha ida para Bremen, na Alemanha, para fazer um curso superior de Global Management durante um ano. Este ano foi muito intenso, conheci pessoas incríveis que fazem parte da minha vida até hoje.

Voltei ao Brasil, terminei o meu curso de Administração, comecei a trabalhar e quem disse que aquela vontade de morar fora tinha passado? Muito pelo contrário, piorou! A oportunidade apareceu: fui selecionada para uma bolsa de estudos na mesma universidade que tinha feito o intercâmbio em Global Management, mas, agora, para fazer um mestrado.

O tempo do mestrado também foi vivido com muita intensidade. E foi nessa época que conheci a Cris e a Flora. Tudo ia muito bem, concluí o mestrado e estava fazendo um estágio em Marketing. Com quase 3 anos morando na Alemanha, muito feliz com as minhas conquistas, eu conheci quem seria o meu futuro marido. E sabe o que ele me pediu? Não, não foi em casamento. Pediu para morar no Brasil! Era tudo o que eu NÃO queria, mas avaliei que, se estávamos querendo construir uma vida juntos, seria bom para o relacionamento se ele aprendesse a minha língua e a minha cultura.

Estava bem claro para todas as partes que a nossa ida ao Brasil seria temporária e lá vivemos por 8 anos. Ele se integrou bem, tínhamos estabilidade e nasceram ali os nossos 2 filhos. Mas eu ainda queria morar fora do Brasil, esse sentimento nunca tinha me largado. Colocamos todos os prós e contras no papel e decidimos que seria mesmo tempo de voltar para a Alemanha.

Há 5 anos voltamos à Bremen, a cidade onde nos conhecemos e onde temos amigos. A chegada foi tranquila, aos pouco as coisas foram se moldando e se estabilizando.

Atualmente, trabalho como Sales Manager com foco principal no mercado Brasileiro. Além disso, dedico uma parte do meu tempo com muito amor e carinho como colaboradora do Continuidade Podcast, este projeto maravilhoso de autoria de minhas amigas Cris e Flora. A minha responsabilidade é tratar de assuntos comerciais, assim como a criação dos posts para as redes sociais. Eu fico ansiosa para ouvir os novos episódios e adoro quando eles estão cheios de reflexões.

Eu me sinto muito em casa na Alemanha, apesar da saudade que sinto dos familiares, dos amigos e, especialmente, das festividades no Brasil, como a virada de ano na praia, o Carnaval e o São João.

Eu sou Clarisse Och e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

Histórias de Migração: Flora Regis Campe

Oi, eu sou Flora. Sou soteropolitana, psicóloga e apaixonada pela busca incessante de compreender o olhar do outro e a sua forma de construir a realidade. Já morei em diversos estados do Brasil antes de decidir sair dele, ou seja, a migração já fazia parte de minha vida antes mesmo de eu, de fato, emigrar.

Aos 17 anos, voltei a viver na capital baiana, almejando entrar para a universidade de psicologia e, ali, firmar pouso para o resto da vida (bem dramática). Já na Universidade, no ano de 2001, eis que um estudante alemão aparece na minha vida e me faz mudar de opinião em relação a criar raízes em Salvador. Com isso, me deixei levar para Bremen, cidade dos Saltimbancos, no norte da Alemanha.

Morando em solo alemão desde 2004, fui em busca de reconhecer meu diploma de psicóloga. Foram 4 anos de muitas dúvidas e noites de estudo numa língua completamente nova. Eu, pessoa tímida, um pouco insegura e muito observadora, fui, passo a passo, sem pressa, passando nas provas orais de final de curso e aumentando minha autoestima de psicóloga migrante no país das grandes cabeças da psicologia ocidental.

Acabei me tornando mestra em psicologia, especializada nos efeitos psicossociais da migração. Fui trabalhar na área de assistência familiar, utilizando todo o meu conhecimento para empoderar pais e filhos nos seus desafios de educar e se tornarem independentes.

A psicologia clinica sempre foi a minha grande paixão. É no consultório e nos trabalhos de grupo, empoderando migrantes e alemães, que eu me realizo plenamente em minha missão de vida.

E o Continuidade Podcast? Nas minhas caminhadas diárias, amava ouvir um podcast muito especial e veio daí a ideia de começar a produzir o meu próprio conteúdo na podosfera. Ser encorajada por minha parceira de muitas aventuras reflexivas foi essencial para sair da zona de conforto e me mostrar, com todas as minhas imperfeições.

Ah, como é desafiador falar de mim mesma (muitas vezes com o português defasado), mostrar a cara! Mas aqui estamos nós, nos motivando mutuamente, sendo apoiadas por outras grandes amigas e amigos, errando algumas vezes, mas aprendendo sempre.


Eu sou Flora e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

Histórias de Migração: Cris Oliveira

Oi, eu sou Cris. Nasci em Salvador e minha história de migração começou muito antes de eu ter consciência de que eu já estava sonhando em me aventurar pelo mundo. Desde criança, sempre fui fascinada por línguas estrangeiras. Mesmo sem entender nada, adorava ouvir, tentar decifrar palavras desconhecidas, repetir as expressões mentalmente. Aos 10 anos, comecei a aprender inglês e, quando via fotos das cidades americanas nos livros, ficava imaginando que eu estava passeando por lá.

O tempo foi passando e eu comecei a fazer planos mais concretos para descobrir aqueles lugares que, até então, só via nos livros. Queria conhecer os 5 “boroughs” de Nova Iorque, ver a ponte de Londres, poder contar minhas próprias histórias de aeroportos, ter amigos espalhados pelo mundo e contar anedotas que terminavam em risos por causa de confusões linguísticas.

O tempo foi passando e eu comecei a fazer planos mais concretos para descobrir aqueles lugares que, até então, só via nos livros. Resolvi, então, organizar um intercâmbio para quando terminasse a faculdade de Letras, mas, antes de concretizar esses planos, acabei conhecendo um polonês-alemão que me fez mudar o destino de minha viagem. Fui parar em Bremen, na Alemanha, uma cidade sobre a qual não sabia muita coisa. Mal sabia eu que estava iniciando a minha mais importante viagem. A viagem para dentro de mim mesma, onde eu aprenderia a me perceber de forma diferente, a me reinventar várias vezes e, com isso, me tornar uma versão mais segura de mim.

Hoje, sou professora de adolescentes que acabaram de chegar de vários lugares do mundo e, através de seus olhares, acabo revisitando minha própria história de imigração continuamente.

O Continuidade Podcast me ajuda a organizar minhas reflexões a estabelecer contato com outras pessoas e a descobrir outras partes de mim.

Eu sou Cris Oliveira e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?