Histórias de Migração: Paula Clemente

Desde pequena, algo sempre me dizia que Salvador, onde nasci, não seria onde eu iria morar para sempre.

Talvez isso fosse relacionado, ainda que de uma forma subconsciente, ao fato de correrem nas minhas veias o sangue espanhol. A ditadura de Franco fez com que meu pai saísse de sua cidade natal, Alicante, na Espanha, e fosse se aventurar em terras brasileiras nos anos 70. Ele gostou do clima tropical da Bahia e por ali decidiu ficar. Lá, conheceu minha mãe, que é baiana, e eu nasci dessa união.

A minha vontade de desbravar o mundo também pode se dever ao meu fascínio pela língua inglesa, idioma que sempre tive muita facilidade e gosto por aprender. Comecei a estudar english com 10 anos de idade e era a “nerd” da sala, não nego!

Na verdade, acho que uma soma de diversos fatores contribuiu com essa vontade latente e constante de ir “pra fora”. Por exemplo, gostar Geografia e História; amar aprender sobre diferentes culturas; querer trabalhar na ONU – algo que, diga-se de passagem, não se concretizou (mas quem sabe um dia, né?).  Enfim, só sei que o fato de não me sentir “encaixada” na minha cidade natal alimentava esse desejo profundo de conhecer outras terras.

Quando novinha, costumava passar férias na Espanha, onde tenho família por parte de meu pai, e mais tarde, embarquei para um intercâmbio de 6 meses no Canadá. Foi aí que a minha vida deu um giro de 180º.

Eu escolhi a cidade de Toronto justamente por seu caráter anglo-saxão, mas também por seu grande número de imigrantes. Eu sentia que poderia vivenciar uma experiência realmente internacional, em todos os sentidos, e acabaria conhecendo muitas pessoas interessantes por lá. Isso de fato aconteceu, pois foi onde conheci o meu marido!

Marido este que, por sinal, não era canadense, mas sim inglês! Quando nos conhecemos, lembro que tinha dificuldade de entender seu sotaque, que é naturalmente e “britanicamente” mais fechado, e cheguei a questionar se meu nível de inglês, mesmo após tantos anos de dedicação e estudos, era tão bom quanto eu imaginava! Com o tempo, o incidente do sotaque (ou “accent gate”) foi se resolvendo e eu fui me acostumando também com o senso de humor dele, bem diferente do nosso.

Meu intercâmbio acabou e eu tive que retornar ao Brasil. Precisava concluir a faculdade e continuar o meu estagio em Salvador. Mas o sonho de imigrar persistiu e isto, somado ao fato de que agora me encontrava oficialmente em um relacionamento a distancia, fez com que eu decidisse fazer faculdade fora. Por diversas razões, decidi finalizar meus estudos na Espanha, terra de meu pai e que, desde pequenina, me chamava.

Em Alicante, tornei-me “Licenciada en Publicidad & Relaciones Publicas”. Logo após me formar, engatei um Masters of Science na University of Bristol, na Inglaterra, podendo, finalmente, residir no mesmo país que o meu então namorado (atual marido).

Hoje, sigo morando na Inglaterra, mas no condado de Berkshire. Continuo casada com aquele inglês irreverente que conheci no Canadá e sou mãe de um menino de 4 anos.

Eu sou Paula Clemente e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

Histórias de Migração: Lali Souza

Eu nasci numa família de raízes muito fortes ligadas ao seu lugar de origem. Meus pais são do recôncavo baiano, de uma cidade chamada Maragogipe, e, por muitos anos, esse foi o mais longe que cheguei da minha cidade natal, Salvador. No entanto, e contrariando essa nossa tradição familiar, o desejo de sair pelo mundo sempre foi muito presente em mim.

As tão sonhadas viagens entraram na minha vida somente no comecinho da idade adulta e, aos 20 anos, saí do Brasil pela primeira vez. Percebi que a vontade de ir mais além crescia e, em 2011, embarquei para um intercâmbio de 3 meses em Brighton, na Inglaterra.

Além de aprimorar o meu inglês, essa experiência serviu como um divisor de águas na minha vida, porque eu voltei para casa com uma certeza: queria sair outra vez. Durante anos vivi com a ideia fixa de ir morar na Inglaterra, talvez pelo apego nostálgico daquele intercâmbio que, seguramente, tinha sido a minha maior aventura até ali.

Depois de muita busca, decidi que o caminho para imigrar seria através do estudo e, numa visita despretensiosa a uma edição do Salão do Estudante, tive meu primeiro contato com um país que eu nunca tinha pensado sequer em visitar: Portugal. Descobri que a Universidade do Porto oferecia o curso de Mestrado que eu queria e cabia no meu orçamento. Naquele mesmo ano, 2016, embarquei para o Porto, onde morei por um ano e meio.

As dificuldades eram muitas e eu fui sobrevivendo como pude. Pela primeira vez, tive contato direto com a xenofobia. Ser falante de língua portuguesa, que eu pensava ser uma grande vantagem para arranjar trabalho, na verdade atrapalhou um pouco, pois o nosso sotaque brasileiro, muitas vezes, não é tão bem quisto assim por lá.

Apesar de não ter sido um mar de rosas, levo Portugal e o Porto no coração. Conheci pessoas incríveis, fui muito feliz e vivi uma experiência de autoconhecimento muito forte por lá. Voltei pra Salvador por uns meses, mas sabia que não seria para ficar.

Ao decidir voltar pra Europa, por que não arriscar outro lugar? Madri foi onde pousei para mais uma aventura e é a cidade que, hoje, eu chamo de lar. Eu já conhecia e gostava muito daqui, onde também tenho família, o que traz um aconchego todo especial. Por outro lado, eu também queria atrelar essa mudança à possibilidade de aprender um novo idioma.

Ainda sou uma imigrante “bebê”, com apenas 1 ano e 9 meses de vida madrileña. Sigo na luta para encontrar meu lugar ao sol e conquistar a tão sonhada estabilidade emocional (obrigada, Continuidade) e financeira, mas me sinto cheia de garra e esperança de, talvez, ter finalmente encontrado o meu lugar.

Porém, o futuro é muito incerto. Por isso, trago comigo a ideia de que a minha casa vai ser sempre onde eu me sinta feliz. O CEP é só um detalhe!

Nessas idas e vindas, a vida me apresentou Cris e Flora que, mais tarde, criaram o Continuidade. Hoje, tenho a alegria e o orgulho de fazer parte dessa família.

Eu sou Lali Souza e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?