História de Migração: Stela Zaleski

Olá, eu sou a Stela, tenho 35 anos e nasci em um dos lugares mais lindos do mundo: Maceió, Alagoas, Brasil.

Aos 17 anos vim morar na Alemanha, que era meu sonho desde quando estive aqui pela primeira vez, com 7 aninhos. Com 12 anos, vim mais uma vez visitar o país que se tornaria um dia meu lar. Minha mãe já tinha vindo quase 2 anos antes de mim para morar. Quando ela veio, eu fiquei no Brasil pra concluir a escola e vir logo depois.

Chegando aqui tive duas experiências que me marcaram muito. Primeiro, que apesar da minha mãe viver e estar casada na Alemanha, eu não tive direito a um visto permanente. Durante um ano, ia a cada três meses buscar um visto de turista, sempre com medo de não receber e ser mandada de volta. Não queria ficar mais longe da minha mãe. Outra coisa que também foi muito difícil foi não ter amigos e não me sentir pertencente a um grupo.

Bom, tudo isso passou. Consegui, então, um visto de um ano, fiz estágios em dois lugares. No meu primeiro estágio, percebi bem rápido que não era minha praia. Já no segundo, logo vi que adorava trabalhar com gente. Isso é mais a minha cara. E assim foi. Fiz um ano de estágio e fui contratada pra fazer um “Ausbildung” (curso profissionalizante) que tinha duração de três anos. Com isso, consegui mais três anos de visto e eu sabia também que, se depois eu fosse contratada, tendo um emprego fixo, poderia ficar.

A minha primeira amiga aqui na Alemanha foi e é minha irmã e comadre também, Cris Oliveira. Fizemos amizade muito rápido no curso de alemão, mas lá ainda não sabíamos que nos tornaríamos irmãs 😘. Nossa história é um caso à parte. Fazer amigos aqui na Alemanha não foi nada fácil e se sentir pertencente a um grupo, diria que “danou-se”.

Depois de doze anos vivendo aqui, frequentando festas que minha comadre sempre me levava, e onde normalmente também estavam as mesmas pessoas, ainda assim não conseguia fazer conexões para além das festas, apesar de me dar bem com todo mundo. Pelo menos era o que sentia. Até que um dia abri meu e-mail e vi um convite pessoal de um deles me chamando para ir a uma festa na sua casa (onde provavelmente eu iria sem convite mesmo, levada por minha comadre🤣🤣🤣).

Como já falei, eu provavelmente iria de qualquer jeito, mas ter sido convidada daquela forma me deu uma sensação de ser pertencente a um grupo. Não sei explicar exatamente porque, mas essa experiência particularmente me marcou bastante.

Toda minha história aqui, na verdade, me enche de orgulho. Cheguei, tive alguns probleminhas com meu visto e o fato de não ter meus amigos por perto. Na época também não existia WhatsApp, Skype e etc. Isso teria facilitado bastante a minha vida. Conheci meu namorado assim que cheguei na Alemanha. Com ele, casei, tive três filhos, construímos uma casa e durante quatorze anos fomos um casal.

Durante todo esse tempo, eu fui e fiz diversas coisas aqui. Em 2016, passei a trabalhar como autônoma. Foi bom enquanto durou e ano passado resolvi, a princípio, parar com um pequeno salão de estética no qual eu atendia. Em 2017 um novo capítulo se iniciou na minha vida. Me separei, e agora dou outros rumos à minha vida.

Só posso dizer que fui e sou muito feliz aqui. Continuo morando com meus 3 pequenos homens na casa em que construí com o pai deles e isso facilita minha vida em vários aspectos. O que mais me alegra é ter a certeza de que, mesmo vivendo num país que não é o meu de origem, hoje sei que existiu e existem pessoas deste país que sempre me ajudaram a construir minha história aqui. E eu sou muito grata a cada uma delas.😉

No momento, imagino várias coisas para meu futuro, porém nada ainda muito concreto. Tenho vontade de voltar a estudar, mas no momento isso ainda não tem como se tornar uma prioridade.

Se meu filhos resolvessem migrar um dia, eu acho que eu diria a eles pra terem paciência e a correrem atrás daquilo que querem conquistar ao mesmo tempo. Que dominar o idioma do lugar escolhido é quase que um grito de independência e que eles não devem se concentrar em um único caminho, pois, como sabemos, vários caminhos nos levam a Roma. Diria que também respeitem os valores do lugar escolhido para migrar.

A primeira coisa que eu faço quando volto de férias a meu país de origem é comer, comer e comer. 😂 Isso, além de visitar lugares que me trazem algumas boas recordações, com pessoas que fazem parte da história. 😉 Apesar de ser dificil de eleger o que há de melhor para fazer em Maceió, uma coisa é certa: vai ter praia no roteiro. Tem muitos lugares lindos como as dunas de Marapé, a praia de Paripoeira, as piscinas naturais da Pajuçara, a praia do Francês, a Barra de São Miguel, a Praia do Gunga, São Miguel dos Milagres, Maragogi, a Foz do Rio São Francisco e os Cânions do Rio São Francisco. Esses lugares são lindos demais, e tem praias pra todo gosto. Sem falar nas comidas, que são de comer rezando. 😂

Se eu pudesse voltar no tempo para o dia em que resolvi migrar pela primeira vez, os conselhos que eu diria para mim mesma seriam: aprenda a língua do lugar o mais rápido que você puder, não se desespere, tenha paciência, vá com calma, mas vá em frente. Mas também pare, respire fundo e deixe fluir aquilo que não está sob o seu controle.

Daqui a dez anos eu quero estar falando inglês fluentemente, para poder me comunicar por onde eu passar. Pretendo passear por muito lugares do mundo, mas sempre voltar pra casa, a Alemanha. 😉 Eu acho que ter vivido no Brasil e depois ter vindo pra cá foi uma das melhores experiências que eu poderia ter. Construí uma base sólida e aprendi muitas coisas com essas duas culturas.

Eu sou Stela Zaleski e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

*Por Stela Zaleski

Giro pelo Mundo: Buenos Aires

Ao falar de Buenos Aires, começo pela minha avenida preferida: Corrientes. As primeiras quadras, especialmente as que estão entre as Avenidas 9 de Julio e Callao, são cheias de cafés, livrarias e cinemas. Quando chegar no cruzamento da Corrientes e 9 de Julio, verá o Obelisco, importante símbolo da cidade. Interessante que não é o centro geográfico de Buenos Aires, mas é o centro social, por assim dizer. Dali, é muito fácil mover-se, pois tem acesso a várias linhas de metrô e ônibus, é só escolher o seu destino e embarcar!

É possível desbravar Buenos Aires caminhando e isso é muito agradável! A maioria das ruas têm calçadas largas e são muito arborizadas. Além disso, como a cidade é basicamente plana, andar não cansa muito.  

Fim de semana

Vem passar um fim de semana em Buenos Aires? No sábado, uma boa pedida é o Palermo. Hoje em dia, é uma espécie de “shopping a céu aberto” com um monte de coisas pelos “zói da cara”, mas é um passeio legal mesmo assim, porque, além das lojas, tem bares, restaurantes, cafés e feirinhas de jovens designers e artesãos. O bairro em si é super agradável, combina arquitetura antiga e moderna, e fica bem movimentado. Qualquer dia à noite, na Plaza Serrano e seu entorno, vale a pena conhecer os bares, alguns com mesas na calçada. Durante a noite fica bastante movimentado, especialmente nos fins de semana (antes da pandemia, é claro).

Ainda em Palermo, tem o jardim botânico, que é lindo. Ele é cheio de árvores e gatos e fica bem no meio da cidade. Tem também os bosques de Palermo, onde fica o planetário (que parece um disco voador), o Rosedal (uma praça com rosas de todo tipo e espécie!), o jardim japonês (andava meio decadente quando eu fui, não sei como está agora). Esses são passeios bem tranquilos, coisas de caminhar e ver, sentar pra comer um sanduíche ou, como os argentinos, tomar um mate (chimarrão).

San Telmo, Buenos Aires / Foto:  Luis Petrini

No domingo, eu recomendaria um passeio em San Telmo. Nos fins de semana, acontecem feiras de antiguidade pelo bairro e está sempre cheio de gente, argentinos e turistas. Não tem muita coisa para comprar, a ideia é ver o movimento mesmo. Na Plaza Dorrego, depois que desarmam a feira (por volta das 17h), rola um show de tango e um monte de velhinhos vão dançar alíi mesmo, no meio da praça. É lindo de ver! Você também pode ir a La boca pela manhã e depois seguir pra lá, que é pertinho.

Gastronomia

Se for a La Boca, sugiro aproveitar para comer um choripan comprado na rua mesmo! Choripán é o cachorro-quente argentino: uma linguiça de churrasco cortada ao meio dentro de um pão francês! Geralmente se coloca um molho chamado chimi-churri, que é uma delícia!    

Choripan / Foto: Amigos Foods.

Já sobre restaurantes, a melhor dica que eu posso dar é: preste atenção se o lugar é frequentado por argentinos e não só por turistas. Os argentinos gostam de comer bem. Se o restaurante estiver cheio deles, a comida deve ser boa!

Ah! Se for comer uma das tradicionais pizzas, peça também uma fainá: massa de grão de bico. Aqui é o único lugar do mundo onde eu vi alguém comer pizza com acompanhamento, então, vale a pena pedir para conhecer! Faz assim: come um pedaço de cada ao mesmo tempo! Algumas pizzarias até  servem a fainá já em cima da pizza.

Outra dica importante, ainda no tema gastronômico: vá a uma sorveteria.Os sorvetes argentinos são maravilhosos! A sorveteria mais famosa da cidade é a Pérsico, seguida da Freddo, mas tem milhares de sorveterias artesanais espalhadas pela cidade. Se prefere uma dica mais “local”, eu recomendo uma sorveteria de bairro, chamada La Gruta. O sabor dulce de leche granizado é um clássico daqui.

Falando em doce de leite, cabe lembrar que os argentinos sentem muito orgulho pelos doces de leite deles. E com razão! Apesar dos alfajores Havanna serem os mais famosos, há outros tão ou mais gostosos – e mais baratos – em qualquer kiosko. Como boa amante de um doce, não posso deixar de recomendar os havanettes, que são uns cones de chocolate recheados de doce de leite. Uma delícia!

Tango

Vamos falar de tango? Uma boa dica é decidir com antecedência se vai querer ir a um dos shows tradicionais, como os que servem jantar antes do show, porque é necessário reservar. Esses são bem como uma peça de teatro, tipo Broadway, geralmente com cantores e banda ao vivo, além dos bailarinos. Tem de todos os preços, a depender do luxo da comida e do espetáculo, claro. Nunca provei, mas ouvi dizer que a comida não costuma ser lá grande coisa.

San Telmo, Buenos Aires / Foto:  Luis Petrini

 Se a ideia é dançar, uma boa opção são as casas de milonga, como La Viruta (http://www.lavirutatango.com/). São salões frequentados por gente que gosta de dançar, quase como uma espécie de “boate de tango”. Elas oferecem aulas de tango também.

Para os amantes do tango, recomendo também o boteco “Lo de Roberto”. Lá, você vai ouvir uns senhores cantando tango a plenos pulmões, acompanhados de violões. É uma experiência super interessante e todos escutam como se estivessem numa missa. É de arrepiar!  

Museu

O museu que eu mais gosto é o Malba, de arte latino-americana. O Abaporu, de Tarsila do Amaral, faz parte do acervo permanente.

Outro museu que amo e recomendo a visita é o Bellas Artes. Ele tem entrada gratuita e uma excelente coleção de arte moderna no segundo andar. De lá, ainda dá para caminhar em direção à Recoleta, onde está o famoso cemitério com o corpo de Evita Perón, além de uma feira de artesanato aos domingos.

Centro

Ah! Pra finalizar, não esqueça de visitar também a parte mais central de Buenos Aires, onde está Casa Rosada, e de caminhar pela Avenida de Mayo até a Praça do Congresso. Essa região é linda! As fachadas são incríveis, então, sugiro dar uma olhada para cima e conferir toda a beleza. É nessa região que fica o famoso Café Tortoni, que é mesmo muito bonito, mas já adianto: atendimento péssimo e muito caro.

Você já foi a Buenos Aires? Compartilhe com a gente as suas dicas imperdíveis para curtir a cidade!

*Por Silvia Ornelas

*Editado e revisado por Cris Oliveira, Daniele Stivanin e Lali Souza

Imagem de destaque: julian zapata por Pixabay.

As Capitais do Nordeste

Na semana do aniversário da cidade de São Paulo, a revista Veja, em sua edição local, apareceu com uma capa que acabou não homenageando paulistas e ofendendo nordestinos. A reportagem, que tentou fazer uma reverência às contribuições de uma nova geração de migrantes nordestinos à maior capital do Brasil, terminou por deixar um gosto amargo em sua ação ao fazer um retrato do Nordeste que o próprio nordestino não reconhece e por falhar em reconhecer a diversidade real da região que tentaram galantear. Isso revelou, no entanto, uma valiosa oportunidade de refletirmos sobre estereótipos, preconceitos e migração dentro de nosso próprio país.

Antes mesmo de ler a reportagem, a gente já consegue se chocar pela capa. O título da reportagem “A capital do Nordeste” já demonstra uma falta de reconhecimento à grande diversidade da região Nordeste. Falar de Nordeste como se fosse uma coisa só é tão problemático quanto falar da África como se fosse um único país. É impressionante como esse discurso ainda está impregnado na nossa forma de falar.

Nos episódios 7 e 9 da segunda temporada do Continuidade Podcast, falamos justamente sobre estereótipos e preconceitos na migração.

Clica pra ouvir: Episódio 7 – Parte I / Episódio 9 – Parte 2

O Nordeste é uma região plural e diversa, que ocupa 18% da extensão territorial do país e que incorpora 9 estados muito distintos entre si. O nordestino é rural, sertanejo, praieiro e urbano. A região abriga costumes, ritmos, culinárias, climas e falares diferentes em seus estados (e também dentro deles!). Cada um tem a sua cultura e a sua capital, das quais seus habitantes têm orgulho e que os diferencia dos demais. Tentar definir uma capital para essa região – pior ainda se essa cidade está fora dela – é ignorar toda a diversidade que ela tem dentro de si. É anular o seu protagonismo dentro da sua própria identidade.

Mas esse não é o único problema dessa “homenagem”. A reportagem se baseia em um modelo de “migração que deu certo”. Quem são os nordestinos e as nordestinas que aparecem nessa capa? Pessoas de “sucesso”, donas de startups, chefs, empresárias. Todas são pessoas, atualmente, ocupam um lugar de prestígio social e, em sua maioria, de pele clara.

É grave passar a mensagem de que esse é o tipo de migração que deu certo. Onde estão os nordestinos assalariados que vivem nas periferias da cidade? Onde estão os operários e as operárias que trabalham duro para manter a metrópole funcionando? O nordeste representado na capa não corresponde à maioria migrante dessa região. E mais: alcançar riqueza material não deve ser o único caminho para o sucesso, para “dar certo”.

Antes de se autointitular “A Capital do Nordeste”, seria interessante saber quantos nordestinos de fato se sentem em casa nessa “sua” capital. Será que a cultura local é tão receptiva e acolhedora a ponto de fazer com que essas pessoas tenham um sentimento de pertencimento ao local? Será que o ser nordestino pode encontrar reconhecimento na sua capital do Sudeste mesmo que ele não seja empresário e que não tenha tanta escolaridade? A interculturalidade pode ser uma coisa maravilhosa e enriquecedora, mas, para isso, pressupõe uma troca, uma via de mão dupla e um conhecimento mais profundo de todas as culturas envolvidas. Quanto ao Sudeste, ele realmente conhece o Nordeste?

*Por Cris Oliveira

*Revisão e contribuições de conteúdo: Daniele Stivanin e Lali Souza

Imagem de destaque: site Amigos Nordestinos

Canções de Migração: Na Volta Que o Mundo Dá

A canção Na Volta Que o Mundo Dá, que conhecemos na voz da cantora Vânia Abreu, parece ter sido feita para o Continuidade. A letra é linda e faz quase que um resumo das fases da migração, das quais a gente tanto falou nos primeiros episódios do nosso podcast.

A música retrata uma migração voluntária e começa falando daquele sentimento que, muitas vezes, não sabemos muito bem de onde vem. É aquele “chamado”, uma vontade de experimentar viver em outro lugar.

Um dia eu senti um desejo profundo

De me aventurar nesse mundo

Pra ver onde o mundo vai dar

Ao chegar no destino, é comum vivermos uma euforia deliciosa com as novas experiências. O novo pode ser bastante sedutor e a sensação de realizar um sonho é mesmo muito gostosa.

Pisei muito porto de língua estrangeira

Amei muita moça solteira

Fiz muita cantiga por lá

Varei cordilheira, geleira e deserto

O mundo pra mim ficou perto

E a terra parou de rodar

Passada a euforia inicial, vêm as dificuldades. É quando a realidade bate na porta e, muitas vezes, traz consigo a vontade de voltar para o que nos é familiar. Nesta fase, sempre alertamos sobre a importância de ter atenção aos nossos sentimentos e de buscar ajuda, se necessário. Mesmo que a tristeza seja algo normal e parte da vida, lembre-se que você não precisa enfrentar o mundo sozinha(o).

Com o tempo

Foi dando uma coisa em meu peito

Um aperto difícil da gente explicar

Saudade, não sei bem de quê

Tristeza, não sei bem por que

Vontade até sem querer de chorar

O luto na migração, como já vimos, pode vir de muitas formas. A dor de se sentir não pertencente a lugar nenhum pode ser uma delas. A gente fica meio perdido porque ainda não se sente em casa no país de acolhida, mas também percebe que já não se encaixa no lugar de onde viemos.

Angústia de não se entender

Um tédio que a gente nem crê

Anseio de tudo esquecer e voltar

Com o tempo (e com ajuda!) a gente espera que essas dores melhorem e que a gente possa, finalmente, chamar de lar o lugar onde escolhemos viver. Mesmo que esse lugar seja o mundo inteiro.

Agora aprendi por que o mundo dá volta

Quanto mais a gente se solta

Mais fica no mesmo lugar

Na Volta que o Mundo dá é uma canção de autoria de Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro e, em 1988, foi gravada pela cantora Mônica Salmaso no seu disco Trampolim. A versão de Vânia Abreu foi gravada em 1999 e faz parte do disco Seio da Bahia.

Aperta o play pra ouvir Vânia Abreu cantando Na Volta Que o Mundo Dá!

Pessoas Migrantes: Antoni Porowski

Antoni Porowski é um dos protagonistas da série-reality da Netflix Queer Eye. Essa série vai fazer você sorrir e se emocionar com os cinco hilários e queridíssimos Karamo, Bobby, Johnathan, Tan e Antoni. Os cinco têm a missão de passar uma semana acompanhando uma pessoa (previamente indicada por algum/a amigo/a, familiar ou outra pessoa próxima) e ajudando-a em um processo de transformação.

Durante esse tempo, os Fab Five, como eles mesmo se identificam, ajudam a pessoa indicada a entrar num processo de autoconhecimento, lhe dão um banho de loja, fazem uma mudança no visual com corte de cabelo e os escambáu, reformam sua casa e lhe dão dicas de como se alimentar melhor e preparar um jantar bacana para a pessoa que o/a indicou. É nessa parte que Antoni Porowski, nossa pessoa migrante da vez, mostra seu talento.

Antoni, o especialista em culinária e vinhos da série, tem pais migrantes, assim como ele também é. Sua mãe polonesa e seu pai belga migraram para o Canadá antes de seu nascimento. Com isso, ele acabou sendo o primeiro da sua família a nascer e crescer fora da Europa. Nascido no Canadá em 1984, ele cresceu falando inglês, francês e polonês em casa. Essas habilidades linguísticas, que hoje em dia geralmente seriam vistas com admiração, foram motivo para estranhamento na escola quando ele se mudou com a família para os Estados Unidos. Isso foi o que ele descobriu quando estava no sétimo ano na escola e sua família resolveu migrar da cosmopolita cidade de Montreal, no Canadá, para uma cidade pequena da conservadora West-Virginia, nos Estados Unidos.

Antoni Porowski / Imagem: Instagram

Antoni conta que suas habilidades linguísticas eram vistas com estranheza pelos colegas de escola e até pela professora, que sempre perguntava porque que ele não podia simplesmente falar apenas inglês como os demais adolescentes. Essa não era a única diferença que seus colegas de escola não toleravam. Eles também faziam muitas piadas xenofóbicas e basicamente não tinham tolerância para as diferenças culturais que eles detectavam nos comportamentos e hábitos de Antoni. Até os lanches que ele levava para a escola eram motivo de piadas e comentários preconceituosos. Em uma entrevista, ele contou que a imagem que as pessoas daquele estado e naquela época tinham sobre imigrantes era realmente muito limitada. Para eles, ser imigrante significava automaticamente ser um refugiado fugindo de calamidades, guerras ou pobreza. Era como se não houvesse outra possibilidade.

Essa falta de compreensão e o sentimento de não pertencimento causados por ser constantemente excluído por causa de sua origem fez com que Antoni vivesse uma grande crise com sua identidade cultural. Por muito tempo ele desejou ter um nome diferente, mais americano, como Porter ou Portman. Quando ele estava começando a se aventurar na carreira de ator, chegou a considerar seriamente trocar de nome. Ele revela que fazer parte dos Fab Five do programa Queer Eye também o ajudou a se sentir mais tranquilo com sua identidade cultural. Hoje em dia, ser um homem com um sobrenome polonês, com sexualidade fluída e em um relacionamento homossexual, faz com que ele receba milhares de mensagens de jovens gays poloneses agradecendo pela visibilidade que o status de celebridade dele ajuda a dar à causa na Polônia, país onde a homossexualidade ainda é um enorme tabu.

Hoje em dia, Antoni celebra a mistura de culturas que compõem a sua identidade e sempre as mostra e tematiza com muito orgulho em entrevistas e episódios de Queer Eye.

*Por Cris Oliveira

Imagem de destaque: Paul Brissman / The Times

Fonte: https://www.thelist.com/134951/the-untold-truth-of-antoni-porowski/

Mulheres Migrantes: Liz Claiborne

Hoje, falaremos de um grande nome da moda internacional, que venceu barreiras e fundou sua marca numa indústria, até então, dominada por homens: Liz Claiborne.

Anne Elisabeth Jane Claiborne, mais conhecida como Liz Claiborne, nasceu em Bruxelas. Aos 20 anos, em 1949, imigrou para os Estados Unidos. A primeira cidade que recebeu a jovem foi Nova Orleans, mas ela também chegou a viver em Catonsville e, anos mais tarde, fixou residência em Nova Iorque.

Liz estudou Artes e trabalhou para nomes como Tina Leser e Omar Kiam até que, em 1979, fundou a sua própria empresa, que foi batizada de Liz Claiborne, Inc. Além de ser uma atitude à frente de seu tempo – naquela época havia poucas mulheres donas de seus próprios negócios, Liz ainda inovou no tipo de produto. Suas coleções estavam focadas na mulher trabalhadora. As peças tinham um toque elegante e clássico (mas sempre com um toque atual), a preços acessíveis.

Imagem: Liz Claiborne / Divulgação – https://www.lizclaiborne.com/about/

A Liz Claiborne, Inc. ganhou sucesso e notoriedade. Em 1986, a Liz Claiborne, Inc. se tornou a primeira empresa fundada por uma mulher a entrar na lista das 500 maiores da Fortune. A estilista também foi a primeira CEO mulher de uma empresa Fortune 500.

O negócio cresceu e abraçou também o vestuário masculino (sob a marca CLAIBORNE) e também uma linha de acessórios, com bolsas, sapatos, bijuterias e até um perfume.

Claiborne atribuiu seu senso de estilo à sua educação europeia e seu estudo de arte.

Fonte: Imigration to United States – https://immigrationtounitedstates.org/

Além do trabalho como estilista e dos famosos “terninhos” típicos da marca, Liz Claiborne também era conhecida por defender e lutar por mais espaço para a mulher dentro do mercado da moda.

Depois de algumas decisões ruins, o valor de mercado da Liz Claiborne, Inc. caiu muito e o negócio perdeu seu lugar de destaque no universo da moda. Muitas das marcas da empresa foram vendidas a outras companhias.

Liz Claiborne faleceu aos 78 anos no Hospital Presbiteriano de Manhattan, em Nova Iorque, no verão de 2007, vítima de um câncer contra o qual lutava há mais de uma década. A marca e o legado de Liz Claiborne permanecem vivos.

*Por Lali Souza

Fontes:
Liz Claiborne – Site Oficial
20 minutos
Mundo das Marcas
Imigration to United States

Imagem de Destaque: Liz Claiborne fashion designer |© Sara Krulwich/WikiCommons

Continuidade Indica: filme Casamento Grego

Casamento Grego é um filme independente de comédia lançado em 2002, que trata de uma relação romântica intercultural entre a grega Toula (Nia Vardalos, que também escreveu o longa) e o “não-grego branco anglo-saxão protestante” Ian (John Corbett). O pai de Toula sonha em vê-la casada com um homem também grego. Já imagina que deu ruim, né?

Eu não vou falar muitos detalhes do filme, porque a intenção aqui não é fazer uma crítica nem, muito menos, dar spoiler, mas queria aproveitar o gancho da indicação para refletir um pouquinho sobre as tais relações interculturais que até já foram tema de episódio no nosso podcast (ainda não ouviu? Clica aqui!). No filme, o tema é tratado com muito bom humor, mas na vida real nem sempre é assim.

Ian (John Corbett) e Toula (Nia Vardalos) no filme O Casamento Grego

Os relacionamentos interculturais podem trazer grandes desafios não somente para as partes diretamente envolvidas (o casal), mas também para as suas famílias. Ainda usando como exemplo a história de Toula, a sua família relutou muito em aceitar que ela se casasse com um homem de uma cultura diferente da sua, como se essa atitude significasse um rompimento com a sua gente a sua origem.

Por outro lado, há também as dificuldades entre o par em questão, por terem que lidar no dia a dia com uma pessoa de costumes muito diferentes dos seus. Em Casamento Grego, Ian se viu diante de um grande obstáculo: convencer a família de Toula de que ele era digno de casar-se com ela – mesmo não tendo a mesma nacionalidade – e o de se adaptar aos costumes e aos valores dessa nova cultura.

É preciso muito respeito e cuidado para encontrar o equilíbrio e a harmonia numa relação intercultural. Um bom exercício é entender que o outro é apenas diferente de vocês, o que não significa que essa pessoa está errada. Muitas vezes, as diferenças até ajudam a alimentar o amor e a trazer dinâmica para as relações. Porém, se está muito difícil e você se sente mais triste do que feliz, acenda o sinal vermelho de alerta repense se vale a pena seguir ou não nesse relacionamento. Se precisar de ajuda, já sabe: conta com a gente!

Por fim, Casamento Grego é uma comédia romântica muito leve e divertida, ótima pedida para uma tarde de domingo. O sucesso foi grande tão grande que a história ganhou uma continuação, lançada em 2016: Casamento Grego 2.

Assista e conte pra gente o que achou!

*Por Lali Souza

Fontes:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-45569/
https://pt.wikipedia.org/wiki/My_Big_Fat_Greek_Wedding

Histórias de Migração: Paula Clemente

Desde pequena, algo sempre me dizia que Salvador, onde nasci, não seria onde eu iria morar para sempre.

Talvez isso fosse relacionado, ainda que de uma forma subconsciente, ao fato de correrem nas minhas veias o sangue espanhol. A ditadura de Franco fez com que meu pai saísse de sua cidade natal, Alicante, na Espanha, e fosse se aventurar em terras brasileiras nos anos 70. Ele gostou do clima tropical da Bahia e por ali decidiu ficar. Lá, conheceu minha mãe, que é baiana, e eu nasci dessa união.

A minha vontade de desbravar o mundo também pode se dever ao meu fascínio pela língua inglesa, idioma que sempre tive muita facilidade e gosto por aprender. Comecei a estudar english com 10 anos de idade e era a “nerd” da sala, não nego!

Na verdade, acho que uma soma de diversos fatores contribuiu com essa vontade latente e constante de ir “pra fora”. Por exemplo, gostar Geografia e História; amar aprender sobre diferentes culturas; querer trabalhar na ONU – algo que, diga-se de passagem, não se concretizou (mas quem sabe um dia, né?).  Enfim, só sei que o fato de não me sentir “encaixada” na minha cidade natal alimentava esse desejo profundo de conhecer outras terras.

Quando novinha, costumava passar férias na Espanha, onde tenho família por parte de meu pai, e mais tarde, embarquei para um intercâmbio de 6 meses no Canadá. Foi aí que a minha vida deu um giro de 180º.

Eu escolhi a cidade de Toronto justamente por seu caráter anglo-saxão, mas também por seu grande número de imigrantes. Eu sentia que poderia vivenciar uma experiência realmente internacional, em todos os sentidos, e acabaria conhecendo muitas pessoas interessantes por lá. Isso de fato aconteceu, pois foi onde conheci o meu marido!

Marido este que, por sinal, não era canadense, mas sim inglês! Quando nos conhecemos, lembro que tinha dificuldade de entender seu sotaque, que é naturalmente e “britanicamente” mais fechado, e cheguei a questionar se meu nível de inglês, mesmo após tantos anos de dedicação e estudos, era tão bom quanto eu imaginava! Com o tempo, o incidente do sotaque (ou “accent gate”) foi se resolvendo e eu fui me acostumando também com o senso de humor dele, bem diferente do nosso.

Meu intercâmbio acabou e eu tive que retornar ao Brasil. Precisava concluir a faculdade e continuar o meu estagio em Salvador. Mas o sonho de imigrar persistiu e isto, somado ao fato de que agora me encontrava oficialmente em um relacionamento a distancia, fez com que eu decidisse fazer faculdade fora. Por diversas razões, decidi finalizar meus estudos na Espanha, terra de meu pai e que, desde pequenina, me chamava.

Em Alicante, tornei-me “Licenciada en Publicidad & Relaciones Publicas”. Logo após me formar, engatei um Masters of Science na University of Bristol, na Inglaterra, podendo, finalmente, residir no mesmo país que o meu então namorado (atual marido).

Hoje, sigo morando na Inglaterra, mas no condado de Berkshire. Continuo casada com aquele inglês irreverente que conheci no Canadá e sou mãe de um menino de 4 anos.

Eu sou Paula Clemente e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

Continuidade Indica: Coletânea Reedificações

Criar pontes e gerar diálogos: esses são alguns dos principais objetivos do Continuidade.

Acreditamos que existe uma coisa muito poderosa no ato de nos conectarmos a pessoas com as quais compartilhamos as mesmas visões de mundo e objetivos. A certeza de não estarmos sós em nossas aflições, nos traz conforto e acalanto. Por isso, foi uma emoção indescritível nos aproximarmos, mesmo que apenas intelectualmente, da queridíssima Farah Serra.

Farah organizou a “Coletânea Reedificações”, que reúne as histórias de mulheres que se reinventaram através da migração. Esses relatos, em primeira pessoa, nos levaram às lágrimas algumas vezes e, em outras, nos mostrou que nossas dores e incertezas são compartilhadas por muito mais pessoas do que imaginamos.

A Coletânea Reedificações conta com histórias de mulheres diferentes e a sua organizadora tem um desejo em comum com o Continuidade: abrir espaços para que mais mulheres falem por si mesmas, aumentar e estimular a cooperação entre nós e ecoar o movimento de mulheres que inspiram outras mulheres.

No nosso podcast, convidamos algumas das mulheres que compartilharam suas histórias na Coletânea Reedificações e o primeiro desses episódios especiais já está no ar. Érica Martins Carneiro morou na Alemanha e há alguns anos vive na Islândia com sua família trabalhando como guia de turismo. Clica aqui para ouvir o episódio e conhecer um pouco mais sobre a história dela!

Para quem se interessou e quer saber mais sobre o projeto e/ou adquirir o livro, é só entrar e contato diretamente com a organizadora através do email: farahserra@farahserra.com.
Recomendamos muito essa leitura!

*Por Cris Oliveira