Workshop Online: “Relacionamentos na Migração e as Constelações Familiares”

Estamos super felizes em anunciar que vem aí mais um Workshop do Continuidade! O nosso encontro acontecerá neste sábado, dia 25 de setembro, das das 10:00h às 13:00h (Horário de Berlim). E nem precisa se preocupar em sair de casa, viu? O workshop será online, através do Zoom. A contribuição é de entre 15€ e 20€.

Neste encontro, vamos focar principalmente nas relações familiares e em como elas podem afetar a nossa saúde mental. Através do conhecimento da constelação familiar sistêmica convidamos você a refletir quais aspectos de seus relacionamentos (sejam eles interculturais ou não) são importantes para dar continuidade ao seu processo de desenvolvimento emocional e de cuidado da saúde mental. Esse conhecimento lhe ajudará também no entendimento de comportamentos das gerações familiares futuras: filhos, sobrinhos, netos.

Esse aprendizado pode fazer diferença na forma como lidamos com os desafios nque envolve a relação com a nossa família. Além disso, queremos despertar a sua curiosidade e empatia pela sua própria história intergeracional, assim como pela de quem te cerca.

Vamos descobrir juntos as dinâmicas inconscientes que podem ilustrar os movimentos dos nossos relacionamentos amorosos e migratórios? Vamos aumentar suas possibilidades de ação diante aos desafios de morar fora e formar família?

A gente espera você no sábado, dia 25 de setembro!

Quando: 25/09/21, das 10:00h às 13:00h (Horário de Berlim)
Onde: Pelo Zoom
Contribuição: entre 15-20Euros*
Vagas limitadas!

CLIQUE AQUI PARA FAZER A SUA INCRIÇÃO

*Atenção! Se o seu interesse é grande, mas não pode pagar esse valor no momento, entre em contato com a gente. O valor da contribuição não deve impedir a sua participação.

Histórias de Migração: Silvana Fernandes

Olá, eu sou Silvana Fernandes e venho de uma cidadezinha perto de São Paulo, chamada Santa Isabel. Santa Isabel não tem tanta coisa, mas tem muitos sítios, natureza e algumas cachoeiras. Na minha família, somos dois irmãos e eu.

Eu vim pra Alemanha em 1988. Dia 08 de maio de 1988. Então, amanhã fará exatmente 33 anos que eu estou na Alemanha. Eu vim pra cá porque  que eu tinha um amiga que estava morando aqui. Eu trabalhava em um banco no Brasil e estava bem. Era sub-gerente e, quando pedi demissão, meu chefe falou: “você está louca? Você vai ficar no meu lugar!”. A ele eu respondi: “não, eu não quero. Eu quero é viajar e conhecer o mundo.” E foi isso que eu fiz. Comprei uma passagem de um ano e vim pra Alemanha.

Nesse meio tempo, conheci um amigo do marido de uma amiga que começou a me escrever e começamos um romance. Eu cheguei aqui, a gente se encontrou, se deu bem e acabamos indo morar juntos. Essa relação durou 19 anos e, dela, eu tenho dois filhos, Maurício e Juliana. Maurício já vai fazer 30 anos em junho e a Juliana vai fazer 25 agora em maio.

Depois do término do meu relacionamento eu comecei a cuidar de mim. A princípio eu me sentia como o bagaço de uma laranja. Eu era a mulher do Torsten, a mãe do Maurício e da Juliana. Daí, eu fui procurar quem que era a Silvana. Foi quando eu comecei a pensar no que que eu ia fazer.

Durante todo esse tempo, eu só trabalhava em gastronomia e decidi fazer uma reorientação profissional. Estudei Comércio Exterior aos 46 anos. Terminei o curso em 2 anos e, poucos dias depois de me formar, já estava assinando o meu primeiro contrato. O que, a princício, era só para cubrir as férias de alguém, acabou se tornando um contrato permanente e eu estou nesta firma até hoje. Comércio exterior era, na verdade, exatamente o que eu queria ter estudado no Brasil. Eu tinha passado no vestibular, mas, na época, eu trabalhava no centro de São Paulo e a faculdade na qual eu tinha passado era em Sao Bernardo e não tinha como eu sair às 6 horas do banco e estar às 7 horas na faculdade. Às vezes, na vida, os nossos sonhos demoram um pouco para se concretizarem, mas eles chegam. Hoje, eu adoro minha profissão.

Quando eu cheguei aqui na Alemanha, eu não tinha muitos amigos brasileiros e, com os alemães, é mais difícil de a gente se entrosar. Apesar disso, eu tenho a Anne, uma amiga alemã daquela época, e nós somos próximas até hoje. No começo, eu não gostava muito da Alemanha. Eu já tinha morado no Brasil entre 1993 e 1994 com meu marido, na época que eu ainda tinha apenas meu primeiro filho. No Brasil, nós abrimos um supermercado, mas a inflação no país estava muito alta e não conseguimos manter o negócio. Desmontamos tudo, vendemos e voltamos pra Alemanha.

Meu marido sempre quis morar fora, então, em 2000, fizemos nossa segunda migração. Fomos para Portugal, desta vez com dois filhos, e vivemos um ano lá. As crianças iam para a escola, mas como eu sempre falei português com meus filhos, elas não tiveram dificuldade. Apesar do português de Portugal ser diferente, eles conseguiam se comunicar.

Mas Portugal também não deu certo. Na mesma época, os meus pais estavam me chamando para voltar pro Brasil porque eles tinha uma padaria e queriam que a gente a gerenciasse, para que eles pudessem se aposentar. Nós voltamos para lá, mas, infelizmente, o meu agora ex-marido não se adaptou à situação e acabou voltando antes.

Eu ainda tentei continuar vivendo no Brasil com as crianças, mas também não deu e acabei voltando para cá em 2002. Neste ano, minha filha mais nova entrou para a escola aqui e, em um determinado momento, me deu um clique e eu pensei: “agora eu vou ser feliz na Alemanha!”.

Parece que funcionou, porque, a partir daquele ponto, eu passei a adorar este país. Eu, por exemplo, sempre quis estudar alemão. Nessa época, já falava a língua, sempre fui me aperfeiçoando e olha… minha decisão de ser feliz aqui deu certo. Eu adoro a Alemanha e gosto muito de morar aqui.

Eu nao lembro de ter tido experiências ruins. Só no começo, quando eu ainda falava inglês. As pessoas me tratavam muito bem nas lojas porque, acredito, achavam que eu era turista, mas quando eu comecei a falar alemão e elas percebiam que eu estava ali para ficar, já me tratavam um pouco diferente. No entanto, sempre tive uma personalidade forte e, mesmo quando as pessoas reagiam mal e gritavam, por exemplo, quando eu trabalhava na gastonomia, eu sempre revidava: “eu não sei falar alemão, mas eu não sou burra!”

Uma das coisas que mais me enchem de orgulho, realmente, é o fato de eu ter me separado, estar aqui na Alemanha e ter lutado, mesmo aos 46 anos, para me reorientar profissionalmente, ter conseguido fazer o que eu gosto.

Quando ainda era casada, meu marido cuidava de todos os papéis e eu, apesar de saber alemão, tinha a escrita bem ruinzinha. Porém, falei pra mim mesma que eu ia me virar e fiz tudo que eu precisava fazer, mesmo com medo. Eu, as vezes, pensava: “ai meu Deus, como é que eu vou estudar economia em alemão?” Mas eu fui lá, fiz e deu tudo certo.

Daqui a dez anos eu gostaria de estar aposentada e, se eu estiver em um relacionamento, de poder continuar morando aqui na Alemanha, mas passar uns três ou quatro meses no Brasil. Eu não tenho certeza se vai ser possível porque a novidade é que agora, também no mês de maio, eu vou ser avó de uma menina. Isso significa que a minha família já vai entrar na segunda geração de migrantes. A namorada de meu filho também nasceu aqui, mas é descendente de chilenos. Vai ser uma bela mistura!

A minha filha tem muito desejo de morar no Brasil. Ela adora e acha que lá é o país dela, muito mais do que aqui. Sempre digo pra ela terminar a sua faculdade, fazer o que ela tiver de fazer e ir pro Brasil tentar sim. Porque não? Eu dou a maior força.

Se eu pudesse voltar o tempo e dar um conselho para mim mesma, diria: “aprenda a língua o mais rápido possível”. Na minha opinião, você só se integra no país onde está morando se souber falar a língua. E mais: “não se rebaixe. Você não é menos do que ninguém, você só não sabe falar o idioma… ainda”.

Eu sou Silvana Fernandes e essa é a minha história de migração. Qual é a sua?

O que fazer enquanto o visto de trabalho não sai? 4 dicas para aproveitar o tempo e acalmar a ansiedade.

Em muitos países para onde migramos, não é possível começar a trabalhar imediatamente por vários motivos. Muitas vezes, o novo país tem uma língua oficial diferente da nossa e as oportunidades de trabalho podem ser fortemente ligadas ao domínio do idioma local. Em muitos casos, também, nossos diplomas e qualificações do país de origem precisam passar por um processo de reconhecimento oficial antes que possamos, realmente, nos aventurarmos na busca de emprego. Além de tudo isso, outras vezes ainda precisamos esperar sair algum tipo de autorização de trabalho.

Todos esses processos, por serem muito burocráticos, podem demandar bastante tempo, o que acaba se tornando um grande desafio para a pessoa imigrante: ter paciência para esperar as coisas acontecerem. Isso pode ser ainda mais difícil para pessoas que migram em busca de melhores condições de trabalho, de carreira ou de estudos.

Sabemos que essa espera pode ser angustiante. Muita gente fica com a impressão de estar “parada” no tempo. Uma forma de controlar essa ansiedade é tentar uma mudança de perspectiva e lançar o olhar para uma série de coisas que podemos fazer enquanto esperamos.

Neste texto, trazemos algumas sugestões do que fazer enquanto as situações burocráticas ainda não se resolveram. Eperamos que, com isso, possamos dar uma controlada na sensação de estagnação que essa fase da migração pode gerar.

– Faça cursos.

Imagem: StockSnap por Pixabay

Existe uma oferta infinita de cursos online que podemos aproveitar. Muitos até são gratuitos! Enquanto a gente espera nosso visto sair, é possível nos especializarmos, mudar o foco e aprender coisas novas. A oferta é tão ampla que, hoje em dia, a maior dificuldade é escolher que curso fazer. A plataforma Coursera, por exemplo, tem centenas de cursos em parceria com diversas universidades internacionais, nas mais diversas áreas do conhecimento. Você pode fazer os cursos simplesmente para ampliar seus conhecimentos, como também para receber um certificado. Vale a pena dar uma olhada em seu catálogo.

Faça algum trabalho voluntário.

Você sempre pensou em se enagajar em alguma causa social ou política e nunca teve tempo? Enquanto você espera seu visto sair, pode ser o momento perfeito para você fazer isso. Além de te dar um outro foco, isso vai te proporcionar vivências e uma oportunidade valiosa de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Busque associações, ONGS e causas locais para se engajar. A experiência é valiosa e ainda é uma forma de você entrar em contato com a comunidade que te acolhe e de criar vínculos no novo país.

– Aprenda a língua local ou algum outro idioma.

Aprender a língua local pode ser um desafio importante, que possibilitará maior independência e uma participação na vida da cidade de forma mais ampla. Além disso, nos próprios cursos que você fizer, pode conhecer outras pessoas e histórias de migração e, assim, constituir os seus primeiros vínculos no novo local. Isso também vai te ajudar a ampliar a perspectiva sobre os desafios e desejos que te conectam com o lugar onde você está.

– Conheça a cultura local.

Nos nossos novos lugares, podemos lançar um olhar atento a como são os hábitos, os valores e costumes locais. Podemos fazer descobertas belas e inusitada! Por exemplo, em Hamburgo, saber que todo sábado tem uma das maiores feirinhas de orgânicos do mundo debaixo de um viaduto (Isemarkt) ou então que uma comida de rua super típica da cidade é um sanduíche de peixe cru, com pele e tudo (Fischbrötchen)!

Sorrir e se surpreender ao conhecer o diferente ou reconhecer semelhanças podem ajudar a aumentar a sensação de pertencimento por perceber onde se está (e quando ligar para familiares ou receber amigos, poder contar “onde eu moro é assim”).

Aproveite para passear, visitar museus, andar por aí sem destino admirando as paisagens. Assim que o seu visto sair, a situação pode mudar e esses momentos de simples conexão com o lugar, um dia-a-dia leve, podem se tornar raros.

Esperamos que essas dicas sirvam de inspiração para vocês. No entanto, precisamos relembrar da dica mais importante de todas: tenha paciência.

O fato de que é possível ocupar nosso tempo com atividades diferentes como forma de controlar nossa ansiedade, não significa que a gente deva fazer isso o tempo todo. Lembre-se de que, na primeira fase da migração, essa pressão que sentimos para absorver tudo e a necessidade de nos ocuparmos o tempo inteiro é real. Porém, nossa psique também precisa de um descanso e espaço livre para se organizar. O ideal é encontrar um equilíbrio: nos mantermos em atividade, mas também preservarmos um espaço para deixar que as coisas aconteçam em seu tempo.

Neste processo de esperar por algo que não está nas nossas mãos, podemos sentir receio de não dar certo. Por isso, pode ser difícil nos envolvermos em novas atividades e relacionamentos, além de sermos guiados pela premissa: “depois que der certo, eu vou…”. Isso pode ser uma condicional dura e que inviabiliza apreciar e valorizar os pequenos passos diários de descobertas e superações.

Dito isto, finalizamos esse texto com um trecho que Guimarães Rosa escreveu em seu último livro publicado em vida: “a felicidade se acha em horas de descuido”. Durante a espera, pode haver vida, conexão, esperança e a brincadeira. Aproveite cada instante!

*Por Dani Stivanin

*Revisado por Cris Oliveira e Lali Souza

Imagem de destaque: Pexels por Pixabay

Do Chimarrão ao Tucupi

O Brasil é enorme e plural. De norte a sul, segundo o Censo 2020 do IBGE, o nosso país possui mais de 211 milhões de habitantes vivendo em 5.570 municípios. Pouca coisa, né? Diante dessa enorme quantidade de pessoas e considerando a nossa história, marcada pela influência de diversos povos do mundo, como definir uma única cultura brasileira?

O idioma nos une, não podemos negar. Somos um país continental onde há somente uma língua oficial, o português. Mas os regionalismos são tão presentes na linguagem que é quase como se falássemos vários “portugueses” diferentes. Os diversos sotaques trazem uma riqueza cultural imensurável para o idioma que herdamos dos nossos antepassados europeus.

Quando vivemos no Brasil, nossa identidade cultural está muito ligada à região onde nascemos e/ou crescemos. Além do sotaque, o nosso vocabulário, os costumes, as crenças e até as comidas do dia a dia podem ser completamente diferentes se você, por exemplo, é de Manaus ou de Florianópolis.

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Tangerina, Mexirica, Bergamota? Como é o nome desta fruta na sua cidade?

Quando saímos do Brasil, isso muda um pouco de figura. A gente se depara com a visão do povo local, que não sabe da nossa missa a metade, e nos coloca a todos num único potinho: brasileiros. E não é só isso, a gente também acaba se identificando através da nação de onde viemos e nos unimos a nossos compatriotas vindos de tudo quanto é canto do Brasil.

Os perfis regionais já não fazem mais sentido e passamos a ser todos enquadrados dentro do mesmo estereótipo. Falando nisso, temos um episódio que fala um pouco sobre esse tema, dentro do triste contexto da xenofobia. Vale a pena escutar! É o episódio 18 da primeira temporada, clica aqui pra ouvir.

E você? Como vocês se sente vivendo no exterior? Como você lida com essas questões ligadas à sua identidade cultural? Conta para a gente aqui nos comentários!

*Por Lali Souza

Fonte:

Censo 2020 IBGE: https://censo2020.ibge.gov.br/sobre/numeros-do-censo.html