Depressão sazonal: você sabe o que é?

Foto: Dani Stivanin

O nosso último episódio foi sobre a temática da depressão sazonal ou o chamado transtorno afetivo sazonal (Seasonal Affective Disorder – SAD, em inglês). E por que é relevante abordar este tema um tanto desconhecido? O que pode ser feito, se eu notar que eu ou uma pessoa próxima tem estes sintomas? Estas são algumas das informações que vamos abordar neste texto hoje.

A depressão sazonal é um conjunto de sintomas que podem ocorrer nos períodos de menor incidência de luz solar e menores temperaturas, como são os meses de outubro a março no hemisfério norte. Estes sintomas podem variar de intensidade e de frequência, configurando ou não um diagnóstico formal.

E quais seriam os sintomas mais comuns da depressão sazonal? Os relatos mais frequentes são de redução do nível de energia, com sensação de fadiga ou dificuldades em realizar a rotina normal; aumento de apetite, principalmente de carboidratos e alimentos doces; alteração do padrão do sono (como maior sonolência ao longo do dia ou dificuldades para iniciar o sono); rebaixamento das funções cerebrais, com problemas de pensamento, como dificuldades de concentração e lentificação no processamento de informações; problemas no humor, particularmente depressão ou sintomas depressivos, como pessimismo, sentimento de culpa, diminuição da auto estima, desespero e apatia. Também pode ser observada  sintomas ansiosos e a diminuição da socialização, com irritabilidade ou diminuição do interesse em atividades que antes eram prazerosas.

O chamado “Winter Blues” é o rebaixamento ameno da motivação e do funcionamento geral, com os sintomas citados acima, mas mais brandos na frequência e intensidade que a depressão sazonal (SAD). O diagnóstico de SAD, por sua vez, pode ser realizado após três ou mais invernos consecutivos de sintomas. Pode acontecer em qualquer idade, mas principalmente com início entre 18 e 30 anos ou diante de uma mudança do local de onde mora, por exemplo, mudança para um país com menor incidência das horas de sol ao longo do dia. 

Uma questão importante é observar como o seu corpo responde ao inverno e as reduzidas horas de sol. Eu me sinto mais cansado, mais lentificado nas minhas atividades corriqueiras, menos produtivo e mais irritado neste período? O quanto isso me afeta e traz prejuízos nas minhas atividades e relacionamentos? Estes são os nossos parâmetros para que possamos nos comparar e ficar atento para possivelmente pedir ajuda.

Diante dessa auto-observação, podemos conversar com profissionais da nossa confiança seja o médico ou psicólogo. Na consulta com o seu médico de família, ele pode, por exemplo, verificar o seu estado de saúde geral, realizar a dosagem da vitamina D e checar as queixas relacionadas a depressão sazonal, para possíveis encaminhamentos e uso de medicação.

No caso de confirmação de um diagnóstico, o tratamento pode envolver psicoterapia, medicação e estratégias de bem estar. E aqui vamos citar algumas delas:

  • reconhecer estratégias que façam bem (e elas são pessoais e precisam ser customizadas por cada um!)
  • cuidado com a alimentação e rotina;
  • cuidado com a rotina de sono;
  • tentar construir uma rotina de atividade, principalmente caminhadas em áreas externas e durante o dia;
  • uso de ponto de luz em casa, como iluminar a sacada, ter velas nos cômodos, objetos coloridos e flores;
  • uso da terapia de luz, conforme recomendação médica;
  • práticas de meditação para auxiliar no maior contato com as reações corporais, respiração e com os sentimentos e forma de pensar;
  • conhecimento de rituais e saberes do local de morada como rituais de St. Martin, tradições de mercados de Natal, atividades de inverno, decoração de outono e inverno em casa; Glühwein, chás de inverno. Podemos conversar com nativos ou com pessoas que vivem aqui há mais tempo, quais as atividades que as pessoas se engajam neste período;
  • autoconhecimento e observar como está a sua vivência de imigração;
  • buscar grupos de apoio em seus locais de morada
  • procura de novas aprendizagens, como novos cursos.

Conhecer esse diagnóstico é importante para dar nome aos sintomas e sentimentos, para poder reconhecê-los e não gerar culpa e autocrítica exacerbada. Cabe lembrar que ter informação é cuidado e empoderamento! Sempre merecemos cuidado! Não é frescura ou fraqueza ou falta de fé. A nossa saúde mental é muito importante, não se esqueça disso e valorize!!

Quer saber mais? Escute o nosso episódio do podcast!

Por Daniele Stivanin

Bilinguismo sem estresse

Oferecer uma educação bilíngue às suas crianças é o sonho de muitas famílias. De fato, falar mais de uma língua pode abrir muitas portas na vida de uma pessoa. Há vagas de empregos, cursos universitários, eventos culturais, viagens e muitas outras oportunidades que só são possíveis para pessoas que falam mais de um idioma. Por esse motivo, muitos pais e mães se ocupam bastante com diversas formas de garantir que seus filhos e filhas aprendam a falar outros idiomas o quanto antes.

Para famílias migrantes, isso é, na maioria das vezes, uma condição natural. Crianças nascem e frequentam a escola em um país no qual a língua local é diferente da que é falada pelos seus pais e, com isso, vão crescendo com dois ou mais idiomas. No entanto, para muitas dessas famílias o caminho do bilinguismo não é assim tão fácil. Existem questões muito delicadas que envolvem o multilinguismo, sobre as quais refletimos bem pouco ou quase nada.

  1. A educação bilíngue exige muita paciência e comprometimento por parte dos pais.

Quase sempre, por trás de crianças bilíngues super habilidosas, estão pais e mães extremamente determinados e pacientes. São pais e mães que conseguem esperar a ânsia de responder logo que uma pergunta é feita no idioma local, ao invés do seu, para que as crianças tenham a oportunidade de repetir a pergunta, por exemplo. Ou que tem a tranquilidade de, muitas vezes, falar a mesma coisa duas vezes, cada vez em um idioma diferente, para garantir que a criança receba estímulos linguísticos em diversos idiomas. Esses processos exigem calma e dedicação, o que para muitos é difícil ter no dia a dia. Por isso, é importante avaliar se esse tipo de educação se encaixa com a realidade de sua família. Você é paciente? O seu dia a dia permite esse tipo de comprometimento? Se não for o caso, vale a pena reavaliar até que ponto esse tipo de educação faz sentido. Sem persistência e consistência, será mais difícil da criança se acostumar com o uso da língua de herança.

  1. A educação bilíngue não deve excluir a leveza e a naturalidade da convivência

A educação bilíngue não deveria ser almejada a qualquer custo, virando fonte geradora de estresse e comprometendo a qualidade das interações familiares. Crianças bilíngues, muitas vezes, se recusam a falar a língua de herança. Isso pode acontecer porque a língua local ocupa naturalmente uma parcela muito grande e importante no cérebro da criança. Além disso, a criança não pensa nas línguas que fala em termos de utilidade e nem de apego sentimental. Para elas, a importância da língua está diretamente associada à utilidade que o idioma tem para intermediar a atividade mais importante de suas vidas: brincar. Ou seja, quanto mais oportunidades de se divertir e cultivar relacionamentos a criança tiver em um determinado idioma, mais envolvimento ela terá com ele. Isso irá consequentemente aumentar a sua disposição para tentar se comunicar através dele. Ao invés de tentar impor que a criança fale a nossa língua, cabe a nós, adultos, pensarmos em alternativas que levem as crianças a quererem falar aquele idioma. Isso pode ser feito através do lúdico e das conexões pessoais. 

Se ainda assim a criança resistir ao uso da língua de herança, pode ser que seja interessante dar um tempo e reavaliar nossas próprias expectativas com relação ao bilinguismo. Muitas vezes, esse desejo de querer falar a língua dos pais vem aos poucos e é preciso aprender a respeitar o tempo da criança nesse aspecto também. Não podemos deixar de lembrar que existe uma série de valores importantes que precisam ser vividos e passados para elas. Educação linguística é apenas uma parte da educação de forma mais ampla e, na migração, precisamos cuidar para que a tentativa de multilinguismo a qualquer custo não acabe gerando ressentimentos com relação à língua dos pais.

  1. Fale o idioma que seja mais natural para você

No passado, era muito comum ouvir professores e professoras dizendo que uma criança precisaria, primeiro, aprender o idioma local para depois começar a aprender outros. Levados por essa falácia, muitos pais e mães migrantes faziam um verdadeiro esforço para falar com seus filhos e filhas na língua local para que eles aprendessem o idioma dominante o quanto antes. Hoje em dia, já sabemos que é desnecessário nos preocuparmos com isso. Desde muito pequenas, as crianças são capazes de aprender duas ou mais línguas simultaneamente, sendo necessário para isso apenas serem expostas e terem interações significativas nesses idiomas. Ou seja, fale com seu filho ou sua filha no idioma que você se sente à vontade e tenha segurança. A exposição a modelos linguísticos de qualidade é muito importante na fase de desenvolvimento da linguagem. O idioma local poderá ser aprendido facilmente depois que a criança entrar em contato com outras crianças na creche ou escola.

Em resumo, crescer com duas ou mais línguas é um enorme privilégio que deve ser conquistado com leveza, paciência e afetuosidade. Através das línguas que falamos aprendemos a decodificar o mundo à nossa volta e isso pode ser conquistado de forma tranquila e respeitando o tempo e os limites da criança e da família. O bilinguismo, assim como qualquer outra coisa na educação infantil, deve ser um meio de estabelecer laços afetuosos na família e de apoiar no desenvolvimento da criança. Isso tudo deve ser encarado com leveza e naturalidade e não ser implementado de forma rígida, que venha a comprometer a estabilidade e os vínculos familiares. Educação bilíngue, sim! Mas sem culpa, sem pressão e sem estresse.

Quer saber mais sobre esse tema? Escute o nosso novo episódio! Clique aqui pra ouvir.

Por Cris Oliveira

Foto de destaque: B Marra @ Flickr